Por Mark Ellis
Repondendo a uma carta
Prezado Roberto (nome fictício),
Em primeiro lugar, obrigado por confiar em mim para dirigir essa pergunta. Responderei à sua pergunta em dois níveis: o absoluto e o cultural.
Em termos absolutos, não vejo nenhum problema com presépio, seja na igreja ou em casa. Diane e eu usamos alguns para enfeitar nossa casa durante o natal. Mas existem duas objeções contra essa perspectiva.
A primeira é ofenderia o primeiro dos dez mandamentos: Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o SENHOR, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem aos meus mandamentos. (Êxodo 20:4)
Parece, para mim, que temos somente duas opções para interpretar o texto: ou a proibição absoluta de qualquer imagem e escultura, ou a proibição contra imagens e esculturas feitas como objetos de culto. Se aceitarmos a primeira opção em termos absolutos, como proibição de toda a qualquer imagem, isso vai eliminar imagens de todo e qualquer tipo: fotos de netos, bonecas como Barbie, estátuas de animais no jardim, tudo. É assim que os muçulmanos o interpretam.
Eu rejeito a primeira e aceito a segunda por duas razões:
1) O próprio texto deixa muito claro que o propósito de fazer a imagem era prestar culto e cultuar o objeto como um deus. E aplicando isso ao presépio, por tudo que sei, nenhuma pessoa em nenhuma igreja batista iria prestar culto à nenhuma bonequinha encontrada no presépio. Aceitamos como mera
decoração em vista da celebração do nascimento do Salvador.
2) Deus mandou Moisés fazer imagens de várias entidades para serem colocadas no templo: romã, árvores e flores no santo dos santos, bois embaixo da banheira de purificação, e quatro serafins dentro do santo dos santos, dois sobre sobre o propiciatório, e dois lado a lado sobre tudo. O próprio Deus mandou a fabricação de imagens para seu uso dentro do próprio templo de Deus, sem correr nenhum risco de alguém cultuá-las. Então, nego que o primeiro mandamento está proibindo a fabricação de toda e qualquer imagem.
Apesar de qualquer questão sobre a interpretação da Lei de Moisés, existe um princípio teológico mais básico ainda:
Sendo gentios, nunca fomos sujeitos à Lei de Moisés, e sendo cristãos, teríamos sido liberados de qualquer obrigação de guardar a Lei. Para nós gentios que estamos debaixo da graça, que importa é amar Deus mais que qualquer outra coisa.
Mas alguém poderia perguntar, "Mas tendo Jesus menino na manjedoura, não teríamos feito uma imagem de Deus?" Reconheço a lógica, mas nego a conclusão.
Em primeiro lugar, de fato, a própria encarnação era criar uma imagem de Deus em carne e osso para todo mundo ver (Hebreus 1.1-3). Se houvesse maquinas fotográficas nos dias da vida terrestre de Cristo, teria sido permitido bater uma foto de Cristo? Se encontrássemos um desenho de Cristo feito por uma testemunha ocular deveríamos destruí-lo? Eu ACHO que não.
Em segundo lugar, se o problema fosse somente a escultura de Cristo menino, poderíamos fazer um presépio com José, Maria, os pastores, as ovelhas, e o anjo se deixarmos pra fora o bonequinho de Cristo?
Então, em termos absolutos, não vejo nenhum problema com fazer presépio, nem para uso em casa nem na igreja.
Agora, vamos para o outro lado de sensibilidade cultural. Estamos num pais católico romano onde o culto de imagens está endêmico. Estamos de verdade correndo o risco de criar confusão nas mentes dos que foram convertidos da Igreja Católica Romana e uma vida de idolatria e prestação de culto de imagens. Eu entendo que "o escândalo do irmão mais fraco" seria fazer qualquer coisa diante de uma pessoa que foi dominada por aquilo, e vendo nosso comportamento, poderia ser fortalecido para voltar para aquela prática e ser dominada de novo. Mas este princípio tem limites. Conforme Romanos 14:1-12, os que são fortes na fé e capazes de participar numa atividade sem violar seu compromisso com Deus são livres para fazer aquela coisa, e os fracos na fé que não são capazes de fazer sem sentir culpa deveria evitar tais atividades. Mas o fortes deveriam não menosprezar os fracos, e os fracos deveriam NÃO CONDENAR OS FORTES. Os fracos não poderiam usar sua fraqueza para dominar os outros ou impor suas opiniões.
Conheço um professor de teologia que, antes de ser salvo, era viciado por beisebol americano, inclusive apostando nos jogos. Para seu benefício, todos os outros professores teriam de ser proibidos de jogar beisebol pelo resto de suas vidas? Acho que não. Mas pelo amor dele, os outros simplesmente o respeitaram por limitar suas conversas na sua presença, e não o convidavam quando iam assistir os jogos. Houve algo intrinsecamente pecaminoso no ato de assistir um jogo de beisebol? Para mim, não! Mas para não provocar meu irmão voltar para o que era um ídolo para ele, limito minhas liberdades na presença dele.
Mas, existe um outro lado dessa questão: Deus espera que o imaturo amadurece. Quando renovei meu compromisso com Cristo, houve coisas que Deus tirou da minha vida. Uma daquelas coisas foi a mentira, e eu era viciado nisso! O meu medo de voltar para a vida do mentiroso era tão forte, que minha consciência nem deixou-me participar em jogos inocentes que implicaram em enganar os outros jogadores. E por um bom tempo eu julguuei equivocadamente em meu coração os que participaram destes jogos. Hoje não os julgo, mas eu ainda não os jogo. Não me ofende se os outros, inclusive minha esposa e todos os meus filhos jogam. Mas eles sabem para não insistir comigo de jogar com eles. Minha consciência simplesmente não permite.
Baseado neste princípio, aqui no Brasil, eu ia pensar muito e conversar muito com os maduros da igreja antes colocar um presépio na igreja.
Essas são minhas opiniões na questão. Se tiver idéias que poderiam ampliar meu entendimento, seriam aceitas com humildade e prazer.
Tudo de Melhor em Cristo,
Dr. Mark
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