sábado, 4 de agosto de 2012

Cruz ou Estaca? O que diz a Sociedade Torre da Vigia?

As Testemunhas de Jeová argumentam que a cruz em algum ponto da história cristã, foi recebida como símbolo religioso, oriundo do paganismo. Para eles, o instrumento de tortura era uma estaca ou poste ereto.

Para defender esta posição geralmente argumentam sobre o significado das palavras usadas para descrever o instrumento de punição. Como já vimos no tópico sobre as evidências lingüísticas, as palavras crux, stauros e xulon eram usadas para este fim, geralmente indicando um instrumento de duas traves de madeira. No entanto, em publicações da Torre de Vigia, algumas citações são fornecidas de modo a mostrar que estas palavras significavam apenas um poste ereto, e que estas palavras não poderiam indicar nada diferente disto. Encontramos esta argumentação no livro Raciocínios à base das Escrituras, página 99.

A primeira citação é de The Imperial Bible-Dictionary, onde é dito:
No grego clássico, esta palavra significava meramente uma estaca reta, ou poste. Mais tarde, veio também a ser usada para uma estaca de execução com uma peça transversal. The Imperial Bible-Dictionary reconhece isso, dizendo: “A palavra grega para cruz, [stau-rós], devidamente significava uma estaca, um poste reto, ou pedaço de ripa, em que algo podia ser pendurado, ou que poderia se usado para estaquear [cercar] um pedaço de terreno…. Até mesmo entre os romanos a crux (da qual se deriva nossa cruz) parece ter sido originalmente um poste reto.”
Deve-se notar que aqui, a Torre de Vigia concorda que a cruz como conhecemos, foi usada como instrumento de execução, apesar de dizer que no grego clássico stauros significava apenas uma estaca. Resta definir melhor a que período de tempo eles querem dizer com “mais tarde”. Qualquer leitor desinformado acreditaria aqui que seria muito depois da crucificação de Cristo. Como já vimos este não é o caso. No entanto, nem precisamos recorrer ao que já foi dito acima, para responder este argumento. A Bíblia não foi escrita em grego clássico, e sim, em grego Koiné, que surgiu no ano de 300 A.C. Se a palavra em grego clássico teria mais tarde agregado o significado de cruz, quando o grego Koiné passou a ser usado, stauros já indicava um instrumento com duas traves. Como vimos antes, 300 A.C. é o ano que começamos a ver em escritos, referências à crucificação romana. Estranhamente, no apêndice da Tradução do Novo mundo com referências, a questão do grego clássico e do grego koiné é melhor explicada.


Além disto, a citação acima não parece estar completa. A citação completa do The Imperial Bible-Dictionary é:
A palavra grega para cruz, (stauros), significava propriamente uma estaca, um poste reto, ou pedaço de madeira, em que algo podia ser pendurado, ou que poderia se usado para estaquear (cercar) um pedaço de terreno. Mas uma modificação foi introduzida enquanto os próprios domínios e usos de Roma se estenderam às nações de fala grega. Até mesmo entre os romanos a crux (da qual se deriva nossa cruz) parece ter sido originalmente um poste reto. Mas do tempo que ele começou a ser usado como instrumento de punição, uma trave transversal era comumente adicionada… Cerca do período do Evangelho, a crucificação era normalmente executada suspendendo o criminoso em um pedaço de madeira em cruz.
Apesar de mencionar que stauros significaria cruz, a Torre de Vigia deixa de fora as partes da citação que comprovam isto. Em um lugar mencionam as diferenças entre o grego clássico e o koiné, em outro não. Tudo leva a crer que a sociedade Torre de Vigia elaborou estes artigos sem o menor rigor.
No mesmo livro, para fixar sua idéia sobre a tradução como estaca, citam o Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott, comentando sobre a palavra xulon:
É digno de nota que a Bíblia emprega também a palavra xý-lon para identificar o instrumento usado. A Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott, define isto como significando: “Madeira cortada e pronta para uso, lenha, madeiro, etc…. pedaço de pau, tora, viga, poste… porrete, cacete… estaca em que os crimisosos eram pregados… de madeira verde, árvore.” Diz também “no NT, da cruz”, e cita Atos 5:30 e 10:39 como exemplos.
Segundo a própria citação feita pela Torre de Vigia, xulon no Novo Testamento significa também cruz. Além disto, pelo dicionário percebemos que o termo xulon não define a forma, mas o material, que é a madeira. Este dicionário, no mesmo verbete, diz que xulon era empregado também para colares de madeira, colocados no pescoço de prisioneiros. Como exemplo, ele cita Atos 16:24. Por que isto não foi mencionado também? Talvez pelos mesmos motivos da citação anterior. Além disto, deixou-se de fora um comentário importante, que serviria para mostrar que xulon não define a forma do instrumento, apenas o material.

No apêndice da Tradução do Novo Mundo de 1950, declara-se que a palavra latina crux significava apenas estaca nos dias do historiador romano Livy (59 A.C.- 17 D.C.), segundo está citado abaixo:
“O fato que stauros era traduzido por crux nas versões latinas não fornece nenhum argumento contra [a doutrina da estaca de tortura]… Uma cruz é somente um significado posterior de crux. Mesmo nos dias de Livy, um historiador romano do primeiro século A.E.C., crux significava uma mera estaca” (pg. 770).
A Despertai de 22 de Junho de 1984 da mesma forma destaca:
“A palavra latina usada para o instrumento onde Cristo morreu era crux que, de acordo com Livy, um famoso historiador do primeiro século D.C. significava meramente uma estaca” (pg. 17). Finalmente a versão da Tradução do Novo Mundo publicada no mesmo ano diz: “Nos escritos de Livy, um historiador romano do primeiro século A.E.C., crux é uma mera estaca. ‘Cruz’ é um significado tardio de crux” (pg. 1577).
Note que a Torre de Vigia nunca cita nenhum texto de Livy para comprovar suas declarações. Mas uma análise cuidadosa das citações de Livy nos mostra que o historiador nunca usa a palavra crux da forma que a Sociedade diz. De acordo com a Concordância de Livy, feita por Packard, a palavra crux aparece, contando todas as suas formas, apenas 6 vezes em seus escritos (pg. 1011). Estas ocorrências são citadas abaixo em seu contexto:
“Assim ele chicoteou o guia, e para aterrorizar os outros, o crucificou (crucem sublato), e indo para o campo atrás das trincheiras, despachou Maharbal com a cavalaria” (22.13.9).
“Cinco e vinte escravos foram crucificados (crucem acti) acusados de terem conspirado no Campus Martius”(22.33.2).

“Ele imediatamente após isto… ordenou eles [oficiais de alto escalão] a serem castigados e crucificados(cruci adfigi). Então ele cruzou em seus navios para a ilha de Pityusa” (28.37.3).

“Os desertores foram tratados mais severamente que escravos rebeldes, cidadãos latinos sendo decapitados, romanos crucificados (crucem sublati)” (30.43.13).

“Alguns, que foram instigadores da revolta, ele castigou e crucificou (crucibus adfixit), outros ele os entregou para seus mestres.” (33.36.3).

“Nisto eu de minha parte deveria confiar minha própria causa mesmo que eu estivesse pleiteando, não ante o romano, mas ante o senado cartaginense, onde se diz que os comandantes são crucificados (crucem tolli) se eles conduzirem uma campanha vitoriosa mas uma política falha” (38.48.13).
Cada uma destas referências são diretas e desprovidas de detalhes sobre a forma de execução, nenhuma das afirmações indica a forma do instrumento usado. Quando Livy se refere à crux simplex, ele usa a palavra palus: “Presos a uma estaca (deligati ad palum) eles foram castigados e decapitados” (28.29.11; cf. também 26.13.15). Assim, este clamor não é verdadeiro.

Comumente a Torre de Vigia faz uma relação da cruz como um símbolo pagão. Assim, sugere-se que a cruz usada hoje é na verdade uma herança do paganismo. Para isto, citam livros como o dicionário de Vine, que será melhor analisado. A citação diz:
“A forma da [cruz de duas vigas] teve sua origem na antiga Caldéia e foi usada como símbolo do deus Tammuz (tendo a forma do Tau místico, a letra inicial do seu nome) naquele país e em terras adjacentes, inclusive no Egito. Por volta dos meados do 3º. Séc. A.D.,as igrejas ou se haviam apartado ou tinham arremedado certas doutrinas da fé cristã. A fim de aumentar o prestígio do sistema eclesiástico apóstata, aceitavam-se pagãos nas igrejas, à parte de uma regeneração pela fé, e permitia-se-lhes em grande parte reter seus sinais e símbolos pagãos. Assim se tornou o Tau ou T, na sua forma mais freqüente, com a peça transversal abaixada um pouco, para representar a cruz de Cristo.” – Na Expository Dictionary of New Testament Words (Londres, 1962), W. E. Vine, p. 256.
O grande problema na argumentação de Vine, é que a letra Tau que seria a letra inicial do nome de Tammuz, é uma letra grega, e Tammuz é um deus babilônico. A escrita é totalmente diferente, como pode ser visto na figura. O nome do deus Tammuz se divide em três partes: A primeira, que é a que mais se parece com uma cruz, na verdade apenas indica que o nome a seguir é um nome divino. Não é a primeira letra do nome de Tammuz. As outras duas partes é que são. A primeira letra, que seria a segunda parte, se pronuncia dumu, e a parte final se pronuncia zi. Também não foi encontrada referências à tal festividade mencionada por Vine. Assim, falta a comprovação daquilo que Vine diz em seu dicionário.

Neste ponto, Vine parece se basear na obra publicada em 1853, chamada “The two Babilons”, de Alexander Hislop. Ele foi um bispo anglicano, que escreveu este livro para estabelecer um vínculo entre o culto católico-romano, e cultos da antiga Babilônia. No entanto, ao fazer isto, Hislop comete algumas gafes, como não indicar referências, não se basear em estudos arqueológicos e fazer citações fora de contexto. Por isto, seu livro é muito criticado hoje, mas foi a base para qualquer pessoa que quisesse estabelecer um vínculo entre Roma e cultos pagãos. A Sociedade Torre de Vigia já citou muito este livro, no entanto, não tem o mais citado desde 1976. Hislop é o único escritor sobre o assunto, que descreve o “Tau místico”, sendo a letra inicial de seu nome.

Outra referência é o livro The Cross in Ritual, Architecture, and Art. A citação diz:
“É um fato estranho, contudo inquestionável, que nas eras muito anteriores ao nascimento de Cristo, e desde então, em terras intatas aos ensinos da Igreja, a Cruz tem sido usada como símbolo sagrado…. O Baco grego, o Tamuz tírio, o Bel caldeu e o Odin nórdico foram todos simbolizados pelos seus devotos por um instrumento cruciforme.” – The Cross in Ritual, Architecture, and Art (Londres, 1900), G. S. Tyack, p. 1.
Nota-se que o texto não diz que a cruz no cristianismo surgiu por causa destas influências, apenas estabeleceu semelhanças. Isto por si só não é o suficiente para provar nada. O mesmo diz a referência à Enciclopaedia Britannica, que diz:
“Encontraram-se diversos objetos, datando de períodos muito anteriores à era cristã, marcados com cruzes de feitios diferentes, em quase cada parte do mundo antigo. A Índia, a Síria, a Pérsia e o Egito produziram todos inúmeros exemplos… O uso da cruz como símbolo religioso em tempos pré-cristãos e entre povos não-cristãos pode provavelmente ser considerado como quase universal, e em muitíssimos casos ligava-se a alguma forma de culto da natureza.” – Enciclopaedia Britannica (1946), Vol. 6, p. 753.
Nas referências acima, não se estabelece uma relação entre os costumes cristãos e os costumes pagãos. Tudo que se mostra é que eram parecidos. Dizer que cristãos e pagãos possuem costumes iguais não prova que houve um empréstimo de costumes, como a Torre de Vigia quer mostrar. Para isto, eles devem mostrar que a cruz foi realmente um poste horizontal, e que com o tempo, cristãos mudaram sua forma. No entanto, baseando-se nas evidências fornecidas acima, rejeitamos este “empréstimo” como falso. O costume romano sempre foi de crucificar seus prisioneiros em uma crux compacta, composta de duas traves.

Tenta-se ainda relacionar o símbolo da cruz ansada à cruz usada por cristãos. Duas referências são dadas:
“A cruz na forma de ‘Cruz Ansada’ … era carregada nas mãos dos sacerdotes e reis-pontífices egípcios como símbolo de sua autoridade como sacerdotes do deus-Sol e era chamada ‘o Sinal da Vida’.” – The Worship of the Dead (Londres, 1904) Coronel J. Garnier, p. 226;

“Diversas gravuras de cruzes se acham em toda a parte nos monumentos e túmulos egípcios, e são consideradas por muitas autoridades símbolo ou do falo [uma representação do órgão sexual masculino] ou do coito…. Nos túmulos egípcios, a cruz ansada [cruz com um círculo ou uma asa em cima] se acha lado a lado com o falo.” – A Short History of Sex-Worship (Londres, 1940), H. Cutner, pp. 16, 17; veja também The Non-Chistian Cross, p. 183.
Note que as citações nem citam a cruz cristã. A cruz ansada tinha um formato muito diferente da cruz romana, e nunca foi usada como instrumento de tortura.

Outra citação interessante é a citação da Companion Bible:
“Usavam-se essas cruzes como símbolos do deus-sol babilônico, e são vistas pela primeira vez numa moeda de Júlio César, 100-44 A.C., e daí numa moeda cunhada pelo herdeiro de César (Augusto), em 20 A.C. Nas moedas de Constantino, o símbolo mais freqüente é ; mas o mesmo símbolo é usado sem o círculo ao redor, e com os quatro braços iguais, verticais e horizontais; e este era o símbolo especialmente venerado como a ‘Roda Solar’. Deve-se declarar que Constantino era um adorador de deus-sol, e não quis entrar na ‘Igreja’ senão cerca de um quarto de século depois da lenda de ter visto tal cruz nos céus.” – The Companion Bible, Apêndice No. 162; veja também The Non-Christian Cross, pp. 133-141.
A obra The Companion Bible possui vários erros, o que nos impede de tomar este trabalho como sério. Entre seus erros, podemos citar o que ela diz sobre a palavra xulon:
O xulon, que geralmente denota um pedaço de pau ou madeira morta, ou lenha, para combustível ou qualquer outro propósito. Não é como dredon, que é usado para uma árvore viva ou verde, como em Mateus 21:8; Apocalipse 7:1,3; 8:7; 9:4, etc.
O autor não demonstra ter conhecimento sobre as palavras que tenta explicar, já que xulon é usada para uma árvore viva ou verde, nos seguintes textos:
(Lc 23:31)  Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco?
(Ap 2:7) Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
(Ap 22:2) No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a cura das nações.
(Ap 22:14) Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes [no sangue do Cordeiro] para que tenham direito à arvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.
Assim como o autor acima cometeu este erro, ele comete mais um: desconhece todas as referências à crucificação no mundo antigo. Tanto que ele afirma depois que:
Ela [stauros] nunca significou dois pedaços de madeira pregados cruzados em qualquer ângulo, mas sempre um pedaço apenas. Conseqüentemente o uso da palavra xulon (Número 2 acima) em conexão com a forma da morte de nosso Senhor, e traduzida por “árvore” em Atos 5:30; 10:39; 13:29; Gálatas 3:13; 1 Pedro 2:24. Isto é preservado no nosso velho Inglês rood, ou rod. Veja a  Enciclopédia Britânica, 11th (Camb.) ed., volume 7, página 505d.
No entanto, vimos acima que existem várias referências usando stauros, onde o autor indica o uso de mais de um pedaço de madeira. Este apêndice parece se basear na obra de John Denham Parsons, que comentaremos adiante. Inclusive, parece que há cópias de partes desta obra. O texto abaixo é o texto original da Companion Bible:
“Our English word ‘cross’ is the translation of the Latin crux; but the Greek stauros no more means a crux than the word ‘stick’ means a ‘crutch’. Homer uses the word stauros of an ordinary pole or stake, or a single piece of timber.  And this is the meaning and usage of the word throughout the Greek classics…. It should be noted, however, that these five references of the Bible to the execution of Jesus as having been carried out by his suspension upon either a tree or a piece of timber set in the ground, in no wise convey the impression that two pieces of wood nailed together in the form of a cross is what is referred to. Moreover, there is not, even in the Greek text of the Gospels, a single intimation in the Bible to the effect that the instrument actually used in the case of Jesus was cross-shaped” (Companion Bible, Appendix #162).
A seguir, um trecho do primeiro capítulo do livro de John Denham Parsons, The non-Christian Cross, no texto original:
“Now the Greek word which in Latin versions of the New Testament is translated as crux, and in English versions is rendered as cross, i.e., the word stauros, seems to have, at the beginning of our era, no more meant a cross than the English word stick means a crutch. It is true that a stick may be in the shape of a crutch, and that the stauros to which Jesus was affixed may have been in the shape of a cross. But just as the former is not necessarily a crutch, so the latter was not necessarily a cross. What the ancients used to signify when they used the word stauros, can easily be seen by referring to either the Iliad or the Odyssey. It will there be found to clearly signify an ordinary pole or stake without any cross-bar. And it is as thus signifying a single piece of wood that the word in question is used throughout the old Greek classics….It never means two pieces of timber placed across one another at any angle, but always of one piece alone….There is nothing in the Greek of the New Testament even to imply two pieces of timber” (Parsons, The Non-Christian Cross, from chapter 1, “Was the Stauros of Jesus Cross-Shaped?”).
O trabalho de Parsons é interessante em muitos aspectos. A Sociedade Torre de Vigia o cita várias vezes. Parece que ele é a fonte para o clamor que Livy define o formato da cruz. No livro de Parsons, encontramos o seguinte:
“É portanto notável que mesmo esta palavra latina ‘crux’, de onde derivamos nossa palavra cruz e crucificar não necessariamente em dias antigos indicava algo em forma de cruz, e parece ter tido pouca diferença de significado do que seu significado original. Uma referência, por exemplo, aos escritos de Livy, mostrarão que em sua época a palavra crux, seja o que poderia significar, significava um simples pedaço de madeira ou pau, ele o usa neste sentido”. (Parsons, The Non-Christian Cross, do capítulo 2, “A evidência de Minucius Felix”).
No entanto, a referência fornecida por Parsons é de “Livy, xxviii. 29”. Este texto é o mesmo citado acima, que usa a palavra palus, não crux: “Presos a uma estaca (deligati ad palum) eles foram castigados e decapitados”. Portanto, Parsons cita Livy mas desconhece qual a palavra usada por este autor.

Parsons também cita Luciano:
“A luz lateral jogada sobre a questão por Luciano vale a pena ser lembrada. Este escritor, se referindo a Jesus, alude a ‘Aquele sofista deles que foi preso a um skolops’, cuja palavra significa um simples pedaço de madeira, não dois pedaços juntos.”
Esta é uma citação de De Morte Peregrini, e Parsons não se dá conta de que o verbo citado aqui por ele é o mesmo usado em Lis Consonantium, 12, para se referir a um instrumento formado por dois pedaços de madeira.

Parsons, apesar de fazer uma análise de todo o testemunho patrístico, deixa muito a desejar em sua análise. Qualquer citação dos pais da igreja, ele pré-determina que são reflexos da influência pagã. Para isto, ele aponta o fato de que os pais se concentravam mais na figura da cruz do que no que a morte de Cristo significava, o que indicaria uma idolatria. Parsons parece se esquecer, que os pais antes de Constantino, escreviam obras apologéticas. Elas visavam a defesa do cristianismo, portanto, se os pais da Igreja defendessem o uso da cruz na morte de Cristo, e os romanos realmente não usassem cruzes em suas crucificações, então estes pais da Igreja seriam ridicularizados perante todo o império.

Parsons ainda reconhece que Ireneu estava próximo dos apóstolos. No entanto, cita um trecho de Contra Heresias para demonstrar que Ireneu não tinha muita informação sobre a morte de Cristo:

“O que Ireneu diz a respeito de Jesus é:
‘Eis por que passou por todas as idades, tornando-se criança com as crianças… da mesma forma se tornou velho entre os velhos, para ser em tudo o mestre perfeito, não somente quanto à exposição da verdade, mas também quanto à idade, santificando ao mesmo tempo os velhos e tornando-se também modelo para eles. E chegou até a morte… dos quarenta aos cinqüenta declina na senilidade. Era nesta idade que nosso Senhor ensinava, como o atesta o Evangelho e todos os presbíteros da Ásia que se reuníram em volta de João, o discípulo do Senhor, que ficou com eles até os tempos de Trajano, afirmam que João lhes trasmitiu esta tradição. Alguns destes presbíteros que viram não somente João, mas também outros apóstolos e os ouviram dizer as mesmas coisas, testemunham isso tudo. Em quem mais devemos acreditar: nesses presbíteros ou em Ptolomeu, que nunca viu os apóstolos e sequer em sonhos seguiu algum deles?’
O leitor deve decidir por si mesmo se Ireneu acreditou que Jesus nunca foi executado; ou se ele foi executado e sobreviveu; ou se ele nasceu quando supomos, mas executado trinta ou mais anos depois do que supomos; ou então, que apesar de ser executado quando supomos, era um homem velho, e nasceu não no começo, meio ou fim do ano 1 D.C, ou 4 A.C, ou qualquer outra data ortodoxa, mas trinta anos ou mais antes do que chamamos nossa era. De qualquer forma, ele não menciona nem cruz nem execução, e aqui parece assumir que Jesus morreu de morte natural. E em qualquer caso o fato se mantém, que por mais errado que possa estar, Ireneu diz que Jesus chegou à velhice, e disse enfaticamente.

Mesmo admitindo que Ireneu possa estar errado, sua evidência não afeta em nada um dos mais importantes pontos debatidos neste trabalho. Pois está claro que mesmo que ele soubesse um pouco sobre a execução de Jesus, os detalhes desta execução não podem ser particularmente conhecidos; e a afirmação que o stauros que Jesus foi afixado tinha uma barra horizontal pregada nele não está fundamentada em fatos, e pode ter surgido de um desejo de ligar Jesus com um bem conhecido e largamente venerado símbolo da vida, a cruz pré-cristã.”

Assim, Parsons tenta demonstrar que Ireneu desconhecia os detalhes da morte de Cristo. Isto é falso, e já vimos uma citação de Ireneu acima, onde ele deixa bem claro que o instrumento de morte usado por Cristo é composto de uma barra horizontal.

Além disto, a citação de Parsons está incompleta. A citação completa mostra outra realidade:
Eis por que passou por todas as idades, tornando-se criança com as crianças, santificando as crianças; com os adolescentes se fez adolescente, santificando os que tinham esta mesma idade e tornando-se ao mesmo tempo para eles o modelo de piedade, de justiça e de submissão. Jovem com os jovens, tornou-se seu modelo e os santificou para o Senhor; da mesma forma se tornou adulto entre os adultos, para ser em tudo o mestre perfeito, não somente quanto à exposição da verdade, mas também quanto à idade, santificando ao mesmo tempo os adultos e tornando-se também modelo para eles. E chegou até a morte para ser o primogênito entre os mortos e ter a primazia em tudo, o iniciador da vida, anterior a todos e precedendo a todos.

… Quando foi receber o batismo ainda não completara trinta anos, tinha apenas entrado nos trinta – Lucas, de fato, indica a idade do Senhor com estas palavras: “Jesus estava quase começando os trinta anos quando foi ao batismo” -  e depois do batismo pregou somente durante um ano, completando os trinta anos sofreu a paixão, quando ainda era homem jovem e não tinha ainda atingido uma idade avançada. Todos estão de acordo que trinta anos é a idade de homem ainda jovem, idade que se estende até os quarenta; dos quarenta aos cinqüenta declina na senilidade. Era nesta idade que nosso Senhor ensinava, como o atesta o Evangelho e todos os presbíteros da Ásia que se reuníram em volta de João, o discípulo do Senhor, que ficou com eles até os tempos de Trajano, afirmam que João lhes trasmitiu esta tradição. Alguns destes presbíteros que viram não somente João, mas também outros apóstolos e os ouviram dizer as mesmas coisas, testemunham isso tudo. Em quem mais devemos acreditar: nesses presbíteros ou em Ptolomeu, que nunca viu os apóstolos e sequer em sonhos seguiu algum deles?”
Como vimos, Ireneu de fato afirma que Jesus morreu jovem, e Parsons esconde isto. Os detalhes são conhecidos sim, e como Ireneu atesta, a cruz com dois postes de madeira foi usada no caso de Jesus.

Voltando a discutir as referências feitas pela Sociedade Torre de Vigia, temos mais citações de seu livro “Raciocínios à base das escrituras”:

No antigo Israel, os judeus infiéis choravam a morte do falso deus Tamuz. Jeová falou a respeito do que faziam como sendo ‘coisa detestável’. (Eze. 8:13, 14) Segundo a história, Tamuz era um deus babilônio, e a cruz era usada como símbolo dele. Babilônia, desde seu início, nos dias de Ninrode, era contra Jeová e inimiga da adoração verdadeira. (Gên. 10:8-10; Jer. 50:29) Portanto, quando alguém preza a cruz, está honrando um símbolo de adoração que é contra o verdadeiro Deus.

Dizem ainda:
Conforme declarado em Ezequiel 8:17, os judeus apóstatas também ‘estenderam o rebento ao nariz de Jeová’. Isto lhe era ‘detestável’ e ‘ofensivo’. Por quê? Este “rebento”, segundo explicam alguns comentaristas, era uma representação do órgão sexual masculino, usado na adoração fálica.
Vimos acima, que o relacionamento do culto a Tamuz e a cruz não está provado. Grande parte dos textos não relacionam os símbolos de cruzes de povos pagãos, e os que fazem sequer apresentam uma evidência conclusiva. Tanto estes autores quanto a Torre de Vigia ignoram os escritos apresentados no início deste texto, a respeito da crucificação. A tentativa de relacionar paganismo com o formato da cruz usado pelos cristãos é uma tentativa de preencher a falta de evidências que comprovem que a cruz usada no caso de Cristo seria uma crux simplex. Sobre o simbolismo pagão da cruz, vamos citar finalmente um texto bíblico, que a grande maioria das Testemunhas de Jeová desconhecem:

E disse-lhe o SENHOR: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela. E aos outros disse ele, ouvindo eu: Passai pela cidade após ele, e feri; não poupe o vosso olho, nem vos compadeçais. Matai velhos, jovens, virgens, meninos e mulheres, até exterminá-los; mas a todo o homem que tiver o sinal não vos chegueis; e começai pelo meu santuário. E começaram pelos homens mais velhos que estavam diante da casa. – Ezequiel 9.4-6

O sinal dito em negrito é, no hebraico, a letra Taw, que no hebraico antigo, tinha a forma de cruz, e que Vine acima diz que era símbolo de Tammuz. Assim, neste texto, os verdadeiros adoradores são marcados com um Taw, fato que Tertuliano no século 3 D.C. chama a atenção. Este texto mostra que para os autores bíblicos, o Taw ou o símbolo da cruz não possui esta carga de paganismo que a Torre de Vigia tenta mostrar, e que Vine tenta defender.

Depois de tantos argumentos comparando a cruz com cultos pagãos, será que a Torre de Vigia está disposta a viver aquilo que prega?

Entre os deuses cananeus, existia uma deusa chamada de Asherat. A palavra asherat também indicava postes ou árvores sagradas colocadas perto de altares para venerar a deusa mãe Asherah. Na Bíblia, Deus faz grande oposição a estes postes, mandando serem cortados. Alguns exemplos:
(Ex 34:13)  Mas os seus altares derrubareis, e as suas colunas quebrareis, e os seus aserins cortareis.
(De 7:5)  Mas assim lhes fareis: Derrubareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, cortareis os seus aserins, e queimareis a fogo as suas imagens esculpidas.
(De 12:3)  e derrubareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, queimareis a fogo os seus aserins, abatereis as imagens esculpidas dos seus deuses e apagareis o seu nome daquele lugar.
(De 16:21)  Não plantarás nenhuma árvore como asera, ao pé do altar do Senhor teu Deus, que fizeres,
(Jz 3:7)  Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às aserotes.
(Jz 6:25)  Naquela mesma noite, disse o Senhor a Gidão: Toma um dos bois de teu pai, a saber, o segundo boi de sete anos, e derriba o altar de Baal, que é de teu pai, e corta a asera que está ao pé dele.
(Jz 6:26)  Edifica ao Senhor teu Deus um altar no cume deste lugar forte, na forma devida; toma o segundo boi, e o oferece em holocausto, com a lenha da asera que cortares
(1 Re 16:33)  também fez uma asera. De maneira que Acabe fez muito mais para provocar à ira o Senhor Deus de Israel do que todos os reis de Israel que o antecederam.
(2 Re 17:10)  Levantaram para si colunas e aserins em todos os altos outeiros, e debaixo de todas as árvores frondosas;
E o que Tertuliano disse no passado, é escutado hoje:
“Se alguns de vós pensais que rendemos adoração supersticiosa à cruz, nessa adoração estais compartilhando conosco. Se dais homenagem a uma peça de madeira, importa pouco qual ela seja, porque a substância é a mesma: a forma é diferente, se nela tendes, de fato, o corpo de Deus. Entretanto, quão diferente é do madeiro da cruz Palas Atenas ou Ceres, quando levantadas para venda numa simples estaca bruta, peça de madeira sem forma!? Cada estaca fixada em posição vertical é um pedaço da cruz. Nós rendemos nossa adoração, se quereis assim, a um Deus inteiro e completo.” Apologia, 16.
Bem, demonstrado a existência de adoração a postes, inclusive com referências bíblicas contra isto, perguntamos: adotar a estaca como instrumento de punição para Cristo não seria o mesmo que adotar a cruz? Será que a Torre de Vigia estaria disposta a abandonar este formato para o stauros por causa desta relação com cultos pagãos?

Ainda existem comentários sobre os costumes dos primeiros séculos. Eles são:
É de interesse o seguinte comentário na New Catholic Encyclopedia: “A representação da morte redentora de Cristo no Gólgota não ocorre na arte simbólica dos primeiros séculos cristãos. Os cristãos primitivos, influenciados pela proibição de imagens esculpidas do Velho Testamento, relutavam em representar até mesmo o instrumento da Paixão do Senhor.” – (1967), Vol. IV, p. 486.; e: Concernente aos cristãos do primeiro século, a obra History of the Christian Church diz: “Não se usava o crucifixo e nenhuma representação material da cruz.” – (Nova Iorque, 1897), J. F. Hurst, Vol. I, p366.
Devemos lembrar, que mesmo não tendo o costume de representar o instrumento da morte de Cristo, ninguém negava que o instrumento era composto de duas vigas, fato este demonstrado nos escritos dos primeiros cristãos, e que estão citados acima.

Outro argumento usado também é apelar para o lado emotivo da pessoa. É dito que:
Como se sentiria se um amigo seu muito prezado fosse executado à base de acusações falsas? Faria uma réplica do instrumento de execução? Será que o prezaria, ou, antes, o evitaria?
Provavelmente qualquer um vai concordar com a Torre de Vigia, que não faz sentido prezar o instrumento usado para matar um ente querido. No entanto, o assunto principal não é fazer uma réplica do instrumento, mas qual seria o instrumento. Se pensarmos pelo nosso lado, tudo faria sentido. No entanto, também faria sentido abandonar a Ceia do Senhor, pois é uma comemoração da morte de Cristo. Quem comemoraria a morte de um ente querido? Se devemos rejeitar assim o instrumento usado na morte de Cristo, por que Paulo diz:
(1Co 1:18)  Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.
(Gal 6:14)  Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.
Por que Paulo se gloria na cruz de Cristo, enquanto a sociedade Torre de Vigia incentiva seus fiéis a evitá-la? Certamente, há alguma coisa errada no ensino deles.

Sobre a passagem de Jo 21:18,19, a Torre de Vigia fez um comentário. Na Sentinela de 15 de Dezembro de 1971, o seguinte texto foi publicado nas “Questões dos leitores”:
“O antigo historiador Eusébio reportou que Pedro ‘foi crucificado de cabeça para baixo, pedindo para sofrer desta forma.’ Contudo, a profecia de Jesus não foi tão específica. Diz A Catholic Commentary on Holy Scripture: ‘Como a extensão das mãos é colocada antes de cingir e ser levado, é difícil discernir como foi concebido. Se a ordem é parte da profecia, nós devemos supor que o prisioneiro é preso ao patibulum antes de ser cingido e ser levado para a execução’.
Então, se não fosse pela tradição escrita por Eusébio, a declaração de Jesus não seria interpretada como uma morte por crucificação ou impalamento. Vendo as palavras de João 21:18, 19 sem a tradição, nós tiraríamos a seguinte conclusão: em sua juventude Pedro era capaz de se cingir à vontade para qualquer coisa que quisesse fazer. Ele tinha a liberdade de ir onde queria. Mas em sua vida posterior isto mudaria. Ele teria que estender suas mãos, talvez em submissão a alguma pessoa. Outra pessoa teria controle sobre ele, cingindo Pedro (ou o prendendo ou o preparando para algo porvir) e o levando para um lugar que ele não queria ir, evidentemente o lugar de sua execução. Assim a profecia de Jesus sobre Pedro realmente indicava a morte como mártir, mas a maneira não é implicada.” (p. 768)

No entanto, a citação acima está incompleta. O que o Catholic Commentary on Holy Scripture diz, é:
“As palavras tem algo da misteriosa obscuridade da profecia. Em contraste com a liberdade da juventude de Pedro (se cingindo e andando onde queria), é definido este futuro evento misterioso na velhice de Pedro. Se a contrapartida contém apenas dois termos, a saber, cingir-se por outros, como um velho é ajudado a se vestir, e ser levado a um lugar não naturalmente desejado (um lugar de execução), a profecia prevê somente uma morte violenta, não o modo de morte por crucificação. A extensão das mãos deve ser portanto o termo especificamente correspondente à crucificação, mas como a extensão das mãos é colocada antes de cingir e ser levado, é difícil discernir como foi concebido. Se a ordem é parte da profecia, nós devemos supor que o prisioneiro é preso ao patibulum antes de ser cingido e ser levado para a execução. João escrevendo depois da morte de Pedro nota que Jesus disse isto ‘significando por que tipo de morte ele iria glorificar a Deus’.”
Como vimos, o comentário na verdade diz que o “estender das mãos”, aquela velha e conhecida expressão, é que define o tipo de morte a qual Jesus estava se referindo. Ao contrário do que a Torre de Vigia quer provar, o comentário define sim o tipo de morte.

Sobre o testemunho patrístico, o que se sabe é que a Sociedade o discutiu apenas uma vez. É na Despertai de 22 de novembro de 1976:
“Mas escritores do início da Era cristã não clamam que Jesus morreu em uma cruz? Por exemplo, Justino Mártir (114-167 C.E.) descreveu nesta forma o que ele achava ser o tipo de estaca onde Jesus morreu: ‘Pelo que uma trave é colocada ereta, de onde a extremidade mais alta é erguida como um chifre, quando a outra trave é encaixado nele, e as pontas aparecem em ambos os lados como chifres juntos no outro chifre.’ Isto indica que Justino mesmo achava que Jesus morreu em uma cruz.
Contudo, Justino não foi inspirado por Deus, como os escritores da Bíblia. Ele nasceu mais de oitenta anos depois da morte de Jesus, e não foi uma testemunha ocular do evento. Acredita-se que ao descrever a cruz, Justino seguiu um escrito anterior conhecido como “A carta de Barnabé”. Esta carta não-bíblica clama que a Bíblia descreve Abraão como tendo circuncidado trezentos e dezoito homens de sua casa. Então ele deriva significado especial de uma cifra de letras gregas para 318, a saber, IHT. O escritor deste trabalho apócrifo clama que IH representa as duas primeiras letras para Jesus em grego. O T é visto como o formato da estaca de morte de Jesus.

Sobre esta passagem, M’Clintock and Strong’s Cyclopaedia diz:
‘O escritor evidentemente desconhecia as Escrituras Hebraicas, e também cometeu o erro de supor que Abraão estava familiarizado com o alfabeto grego alguns séculos antes dele existir.’ Um tradutor desta carta de Barnabé para o inglês apontou que ela ‘possui inúmeros erros, interpretações frívolas e absurdas das Escrituras’ e ‘tolas bazofias de conhecimento superior que o escritor tolera’. Você confiaria em tal escritor, ou pessoas que o seguiram, para prover informação sobre a estaca onde Jesus morreu? (p. 27).”
O argumento é que tais escritores não são inspirados. Mas será que os escritores que a sociedade Torre de Vigia cita para dar suporte à sua doutrina da estaca de tortura são autores inspirados? Justino Mártir  nasceu oitenta anos depois da morte de Cristo, os autores citados por eles nasceram mais de 1800 anos depois.

Em momento algum considera-se estes escritores como inspirados. Estes autores são citados para demonstrar qual era o sentido da palavra stauros naquela época, e como o stauros era. Eles fazem parte da evidência histórica, portanto, não se discute aqui a validade da interpretação alegórica da carta de Barnabé, por exemplo. O que se discute é que esta carta, escrita pouco tempo depois da morte de Cristo, afirma que o instrumento usado é uma cruz, quando a sociedade Torre de Vigia nega isto.

Dificilmente há uma ligação entre Justino e a carta de Barnabé. Os tipos usados pelos dois são diferentes, sendo um os chifres e o outro a circuncisão.

Conclusão

Chegamos ao final da análise das argumentações relacionadas com a crucificação, e se o instrumento usado era uma crux simplex ou uma crux compacta. Acreditamos então que, devido a tantas evidências disponíveis, o instrumento de punição usada para nosso Senhor Jesus Cristo foi um instrumento composto de duas traves de madeira, assim como sempre se creu.

Provavelmente com o intuito de diferenciar-se de outras denominações cristãs, a Sociedade Torre de Vigia adotou algumas práticas bastante diferentes. Entre elas, a mudança do formato do stauros. Assim, podem alegar com mais facilidade que estão separados do mundo.

No entanto, separar do mundo é não se deixar envolver pelo mundo. Estas pessoas demonstram não estar realmente separadas do mundo, pois falharam em seguir os ensinamentos de Cristo, e agora criam doutrinas que o mundo não seguiria. É desta forma que acabam sendo únicos.

É muito curioso que nas representações da cruz, os católicos geralmente a representam com Cristo crucificado. Isto para eles simboliza os sofrimentos que Cristo passou por todos nós. Os protestantes costumam representá-la como uma cruz vazia, simbolizando a ressurreição de Cristo. Testemunhas de Jeová representam ela com uma trave apenas, talvez simbolizando a obra incompleta de Cristo, que eles ainda tem que completar, observando ordenanças do tipo “não creiais que Cristo morreu em uma cruz”.

Esse post provém de parte do artigo de Gustavo Souteras Barbosa, publicado no e-cristianismo sob o título: Com quantos paus se faz uma stauros? – O artigo foi gentilmente cedido pelo autor para ser publicado neste blog. Algumas alterações de forma foram feitas ao original, mas o conteúdo mantém-se o mesmo.

Fonte: Testemunha de Cristo

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