Por Milton Jr.
“Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte”(Tiago 1.14,15 - NVI).
Tiago nos ensina sobre a dinâmica do pecado. Conquanto muitas vezes queiramos dar desculpas para nossas ações pecaminosas, a verdade retratada nesse texto é que pecamos por causa dos desejos do nosso coração. Atente, porém, para um detalhe. Tiago não está falando de qualquer desejo, mas daquele que ele qualifica como “mau desejo”.
Podemos pensar sobre o “mau desejo” em dois sentidos: primeiro, é mau desejo tudo aquilo que é diretamente proibido pela lei de Deus. Só para exemplificar, o desejo de adulterar é em si mau, pois é explicitamente contrário à santa Lei de Deus.
Porém, há outro sentido que devemos considerar. Bons desejos podem tornar-se maus, quando queremos que se concretizem custe o que custar. A Bíblia não proíbe que os filhos de Deus desejem coisas lícitas, mas quando começamos a ser “controlados” por elas a ponto de pecar para conseguir o que queremos ou pecar por não ter conseguido o que queremos significa que um bom desejo tornou-se um mau senhor. Não é sem razão, portanto, que o Senhor Jesus adverte que “onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21).
Quando estamos com os olhos fixos somente nos desejos do coração, acabamos por ignorar as ordenanças do Senhor. Permita-me ilustrar isso.
Sempre gostei muito de mergulhar. Quando coloco máscara, canudo (snorkel) e pés de pato (nadadeiras) e me lanço ao mar, quase me esqueço da vida “aqui fora”. Quando eu era ainda um adolescente, costumava pegar, com amigos, peixinhos ornamentais para vender a um revendedor de peixes de aquário, que havia em minha cidade. Alguns peixes eram mais caros e quando encontrávamos um desses era uma grande alegria. Um dia foi a minha vez de achar um desses. Ele era lindo e logo pensei no dinheiro da venda (que hoje reconheço que não era tanto assim... rs) e no prazer de capturar um daqueles. Tomei fôlego, prendi a respiração e mergulhei atrás. Era um peixe arisco! Eu cercava por um lado com a mão, tentando levá-lo à direção da “redinha” que estava do outro lado e ele se escondia atrás de alguma pedra. A vontade de ter aquele peixinho era tanta que me esqueci de uma lei básica: sem oxigênio eu morro! Quando me vi já quase sem fôlego e olhei para cima, os poucos metros de água até a superfície pareciam quilômetros. Tive de nadar muito rápido e cheguei à superfície ofegante. O desejo pelo peixe me fez esquecer uma lei e isso poderia ter me levado à morte.
Creio que é isso que Tiago está ensinando. O mau desejo me leva a desprezar a lei de Deus e eu peco para consegui-lo ou por não tê-lo conseguido. O que se segue é a morte! O mau desejo se torna senhor, um ídolo, que determina como o homem deve agir, desprezando a Lei do verdadeiro Senhor.
Ao exortar Caim, Deus falou exatamente sobre isso: “Se procederes bem [de acordo com a Lei do Senhor], não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal [pecando por obedecer ao desejo],eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas cumpre a ti dominá-lo” (Gn 4.7 – grifo meu).
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