domingo, 12 de maio de 2013

Perigos na interpretação

Por Marcelo Berti

Recentemente escrevi um artigo que chamou a atenção de muitas pessoas por seu conteúdo relativamente polêmico. No post O Papa, Pedro e a Pedra apresentei minha preferência na interpretação do texto de Mateus 16.18, e afirmei que a pedra referida por Cristo naquela passagem, refere-se a Pedro, e não à confissão de Pedro ou a Jesus Cristo. Por ser conhecida como uma interpretação oferecida pelos Católicos, recebi algumas reações à minha proposta de interpretação, afirmando que teria violado o texto, rasgado as escrituras e inserido nas escrituras uma terrível heresia.

O fundamento de tal afirmação é que eu teria interpretado o verso e esquecido do resto das escrituras que apontam para Cristo como o fundamento da igreja (um perigo real e comum que deve ser evitado). Em outras palavras, o equívoco residia na aplicação dos princípios da hermenêutica. Embora tenha completa consciência de como o tema é polêmico e que as opiniões nesse texto são historicamente divergentes, acredito que a interpretação natural do texto é que Pedro é a Pedra (para mais informações, leia o artigo).

Entretanto, aqueles que se opuseram a minha interpretação, apresentaram princípios hermenêuticos que teria violado, o que me faz escrever esse post sobre perigos na interpretação. Usando o texto de Mat.16.18 (e outros exemplos), vou apresentar alguns dos equívocos que normalmente se comete (eu mesmo já cometi) e que fazem muita diferença na interpretação de textos mais difíceis.

A. A confusão entre “regra” e “princípio”

Uma confusão recorrente nos argumentos teológicos, especialmente na internet, é que existem regras hermenêuticas que determinam qual tal interpretação não é possível. Por exemplo, afirmar que Pedro é a pedra em Mat.16.18 é errado por que diante do todo das escritura Cristo é o fundamento da igreja. Logo, a pedra tem que ser Cristo.

Nesse exemplo, o argumento é baseado em um princípio hermenêutico válido, mas usado de modo equivocado. O princípio é: A interpretação da parte deve se conformar com o a informação do todo. Ou seja, em textos mais obscuros a claridade de textos mais claros serve para iluminar o texto a ser interpretado. Entretanto, isso é um princípio hermenêutico, não uma regra hermenêutica, como muitas vezes é aplicado.

A diferença é simples: A regra é fixa, o princípio é flexível. Em outras palavras, a regra delimita, o princípio delineia. Princípios hermenêuticos não foram estabelecidos como regras fixas de um jogo, foram estabelecidas como guias na interpretação, e transformá-los em regras é atribuir uma função para o qual não foram desenhadas. O resultado disso pode ser desastroso.

Por exemplo, algumas pessoas usando esse princípio como regra, fazem com que o TODO da escritura seja SOBREPOSTO sobre a parte interpretada. Inconscientes do que estão fazendo, eles inserem sua visão pessoal do todo, sobre o texto que querem interpretar e inserem sobre o texto suas perspectivas pessoais. Ou seja, o texto (parte)  não pode acrescentar nada ao todo da escritura. Em outras palavras, na tentativa de fazer exegese, fazem eisegese. Em nosso exemplo, o princípio é válido, mas não sua aplicação.

Entretanto, considerando que o princípio é válido, como podemos entender o fato de que Pedro é a pedra, diante da afirmação da escritura de que Cristo é o fundamento da igreja? Para responder a essa pergunta, você terá que ler o artigo.

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