Por Marcelo Berti
Recentemente escrevi um artigo que chamou a atenção de muitas pessoas por seu conteúdo relativamente polêmico. No post O Papa, Pedro e a Pedra apresentei
minha preferência na interpretação do texto de Mateus 16.18, e afirmei
que a pedra referida por Cristo naquela passagem, refere-se a Pedro, e
não à confissão de Pedro ou a Jesus Cristo. Por ser conhecida como uma
interpretação oferecida pelos Católicos, recebi algumas reações à minha
proposta de interpretação, afirmando que teria violado o texto, rasgado
as escrituras e inserido nas escrituras uma terrível heresia.
O fundamento de tal afirmação é que eu
teria interpretado o verso e esquecido do resto das escrituras que
apontam para Cristo como o fundamento da igreja (um perigo real e comum que deve ser evitado).
Em outras palavras, o equívoco residia na aplicação dos princípios da
hermenêutica. Embora tenha completa consciência de como o tema é
polêmico e que as opiniões nesse texto são historicamente divergentes,
acredito que a interpretação natural do texto é que Pedro é a Pedra (para mais informações, leia o artigo).
Entretanto, aqueles que se opuseram a minha interpretação, apresentaram princípios hermenêuticos que teria violado, o que me faz escrever esse post sobre perigos na interpretação. Usando o texto de Mat.16.18 (e outros exemplos), vou apresentar alguns dos equívocos que normalmente se comete (eu mesmo já cometi) e que fazem muita diferença na interpretação de textos mais difíceis.
A. A confusão entre “regra” e “princípio”
Uma confusão recorrente nos argumentos
teológicos, especialmente na internet, é que existem regras
hermenêuticas que determinam qual tal interpretação não é possível. Por
exemplo, afirmar que Pedro é a pedra em Mat.16.18 é errado por que
diante do todo das escritura Cristo é o fundamento da igreja. Logo, a
pedra tem que ser Cristo.
Nesse exemplo, o argumento é baseado em um princípio hermenêutico válido, mas usado de modo equivocado. O princípio é: A interpretação da parte deve se conformar com o a informação do todo. Ou seja, em textos mais obscuros
a claridade de textos mais claros serve para iluminar o texto a ser
interpretado. Entretanto, isso é um princípio hermenêutico, não uma
regra hermenêutica, como muitas vezes é aplicado.
A diferença é simples: A
regra é fixa, o princípio é flexível. Em outras palavras, a regra
delimita, o princípio delineia. Princípios hermenêuticos não foram
estabelecidos como regras fixas de um jogo, foram estabelecidas como
guias na interpretação, e transformá-los em regras é atribuir uma função
para o qual não foram desenhadas. O resultado disso pode ser desastroso.
Por exemplo, algumas pessoas usando esse
princípio como regra, fazem com que o TODO da escritura seja SOBREPOSTO
sobre a parte interpretada. Inconscientes do que estão fazendo, eles
inserem sua visão pessoal do todo, sobre o texto que querem
interpretar e inserem sobre o texto suas perspectivas pessoais. Ou seja,
o texto (parte) não pode acrescentar nada ao todo da escritura. Em
outras palavras, na tentativa de fazer exegese, fazem eisegese. Em nosso
exemplo, o princípio é válido, mas não sua aplicação.
Entretanto, considerando que o princípio é
válido, como podemos entender o fato de que Pedro é a pedra, diante da
afirmação da escritura de que Cristo é o fundamento da igreja? Para
responder a essa pergunta, você terá que ler o artigo.
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