terça-feira, 12 de julho de 2011

Introdução ao Evangelho de João

Retirado e resumido do mui recomendado livro Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento por Carlos Osvaldo Pinto.

TÍTULO
Há uma leve variação nos manuscritos. Alguns manuscritos dizem somente “segundo João” enquanto outros “Evangelho segundo João.”

AUTORIA
A crítica radical diz que o evangelho não possui autoria apostólica. Vejamos:

EVIDÊNCIAS INTERNAS
• Autor foi testemunho ocular dos fatos
o 1.14: Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.
o 19.35: Aquele que o viu, disso deu testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que está dizendo a verdade, e dela testemunha para que vocês também creiam.
o 21.24-25: Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e que as registrou. Sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos.
• Autor tem bom conhecimento de costumes judaicos
o Rituais de purificação (2.6);
o Cerimônias de libação e iluminação durante a festa dos tabernáculos (7.37; 8.12);
o Contaminação devido à Páscoa (19.31ss).
• Conhecimento da teologia judaica
o Legislação sobre o sábado (6.10; 9.14ss);
o Conceito da transmissão hereditária da culpa (9.2).
• Conhecedor da geografia da Palestina e arquitetura de Jerusalém
o Menções às duas Betânias (1.28; 12.1);
o Proximidade entre Enon e Salim (3.23);
o Poço nas cercanias do monte Gerizim (4.21).
o Tanque de Betesda (5.1-2)
o Existência do pavimento ao redor do Pretório – Gábata (19.13). (É importante lembrar que a maior parte de Jerusalém foi destruída pelos romanos entre 66 e 70, o que torna altamente improvável que um não palestino fosse capaz de fornecer tais detalhes.)
• Ele usa a expressão: o discípulo a quem Jesus amava (13.23; 19.26), para descrever a si mesmo.
o Algumas tentativas de identificar o discípulo amado com o jovem rico ou Natanael encontram pouco apoio entre os estudiosos.
• O autor demonstra intimidade com os discípulos:
o 2.11-12: Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Depois disso ele desceu a Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. Ali ficaram durante alguns dias.
o 6.19: Depois de terem remado cerca de cinco ou seis quilômetros...
o 12.16: A princípio seus discípulos não entenderam isso. Só depois que Jesus foi glorificado, eles se lembraram de que essas coisas estavam escritas a respeito dele e lhe foram feitas.
o 13.22: Seus discípulos olharam uns para os outros, sem saber a quem ele se referia.

TRÊS PRINCIPAIS OBJEÇÕES À AUTORIA JOANINA E AS RESPECTIVAS RESPOSTAS:
1. Modo abrupto como a messianidade de Jesus é introduzida; contrário dos sinóticos.

Se for levado em conta que João escreveu seu Evangelho ciente da existência dos outros, a maneira direta de se introduzir a messianidade seria algo a se esperar. Não somente, há um crescimento paulatino da percepção de messianidade por parte dos discípulos neste evangelho.

2. Escatologia realizada do Evangelho, em contraste com o retrato iminente e apocalíptico da paurosia dos sinóticos.

A escatologia no evangelho de João nem sempre é realizada (cf. 5.5-29; 14.1-4). Além disso, os sinóticos também apresentam “escatologia realizada” (Lc 17.21). O melhor é dizer que tanto os sinóticos quanto João tem exemplos de escatologia “inaugurada”.

3. Diferença nos discursos de João em contraste com os sinóticos.

Diferenças de conteúdo e forma não exigem diferença de origem. Cada um dos evangelistas tinha seu propósito para qual escolheu a forma e o estilo que julgou melhor.

EVIDÊNCIAS EXTERNAS
• A tradição universal confirma João como autor;
• Alusões em vários autores pós-apostólicos:
o Clemente de Roma;
o Policarpo;
o Inácio de Antioquia;
o Justino Mártir;
o Irineu de Lyon;
o Taciano;
o Teófilo de Antioquia;
o Clemente de Alexandria;
o Tertuliano;
o Orígenes;
o Eusébio.

DATA
John Robinson defendeu uma data anterior a 70 a.C., em seu livro Redating the New Testament, com base em Jo 5.2: Há em Jerusalém... um tanque. Argumentando a partir do presente do verbo, Robinson propõe que Jerusalém ainda não havia sido destruída quando o Evangelho foi escrito.

Ademais, os elementos antignósticos presentes no Evangelho não o torna necessariamente posterior ao ano 80, pois foram encontrados elementos gnósticos na Palestina e no Novo Testamento ainda nos anos 50, vide Colossenses.

ORIGEM E DESTINATÁRIOS
A tradição eclesiástica aponta para Éfeso seguindo Irineu e Eusébio. Se uma data mais remota for presumida, não há razão para rejeitar a Palestina como lugar de origem.

A sugestão clássica dos destinatários é de gentios, apesar de pouco provável, mesmo quando diante da suposta passagem chave 20.30-31. Este trecho é usado por muitos para dizer que João, quando escreveu o evangelho, tinha em mente os incrédulos, mas isso parece pouco provável à luz de todos os outros livros do NT, que foram dirigidos por comunidades ou indivíduos cristãos.

O propósito geral do Evangelho, encorajar a fé, pode indicar uma audiência mista, em que cristãos precisavam de confirmação e interessados podiam encontrar um testemunho direto sobre a pessoa e obra de Cristo que os levasse a crer nele e, assim, ser salvos.

PROPÓSITO
João é o único evangelista que anuncia claramente seu propósito: Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome (Jo 20.20-31).

Os comentaristas têm demasiadamente enfatizado o aspecto evangelístico do livro, se atentando pouco ou nada para os aspectos apologéticos ou polêmicos do evangelho, em que João enfatiza a glória do Verbo (cf. 1.14; 17.1,5) e a realidade da encarnação.

Há indícios de que João queria esvaziar um gnosticismo incipiente, de tendências docéticas, enfatizando a encarnação e a realidade da natureza humana de Jesus. Ele relata como atividades de Jesus comer, chorar e sentir-se cansado, bem como oferece o testemunho importantíssimo do tórax perfurado, do qual fluíram sangue e água (19.34-35). Outro elemento polêmico no quarto evangelho é sua quase-obsessão com a verdade e a verificação objetiva por meio do testemunho. Isto se vê pelo uso frequente de aletheia e seus cognatos (55 vezes) e de marturia e seus cognatos (47 vezes).

O alvo de João era “estabelecer e confirmar a realidade histórica sobre a natureza do homem Jesus” (Hiebert). Ele fez isso enfatizando os seguintes tópicos:
• A natureza e a missão messiânica de Jesus;
• A singularidade de Jesus como “o filho de Deus;”
• O escopo universal de Sua obra redentora.

Dessa forma, João foi evangelístico, polêmico e pastoral.

Como todo evangelho, João visa criar relações pessoais da fé para com Deus mediante Jesus Cristo. Sua maneira peculiar foi proclamando a glória eterna do Filho encarnado, que por meio de Sua vida, morte e ressurreição, meia a graça e a verdade divinas para aqueles que creem.

FRASE QUE RESUME O PROPÓSITO
Estabelecer relacionamentos de fé com Deus proclamando a glória de Jesus, Messias, o Filho encarnado, cuja vida, morte e ressurreição mediam vida eterna, graça e verdade aos crentes.

MENSAGEM DO LIVRO (RESUMO)

A encarnação do Filho de Deus revela Sua glória divina àqueles que, a despeito da oposição generalizada, desfrutam de graça e verdade mediante a fé em Jesus como a provisão divina para o pecado do mundo.

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