segunda-feira, 7 de maio de 2012

Argumento Ontológico – William Lane Craig

O último argumento que eu gostaria de discutir é o famoso argumento ontológico, originalmente descoberto por Santo Anselmo. Este argumento foi reformulado e defendido por Alvin Plantinga, Robert Maydole, Brian Leftow e outros. [47] Eu vou apresentar a versão do argumento como elaborada por Plantinga, um dos seus mais respeitados proponentes contemporâneos.

A versão de Plantinga é formulada em termos semânticos de mundos possíveis. Para aqueles que não são familiarizados com a semântica dos mundos possíveis, permitam-me explicar que por “mundo possível” eu não quero quiser um planeta ou até mesmo um universo, mas sim uma completa descrição da realidade, ou uma forma como a realidade poderia ser. Talvez a melhor maneira de pensar sobre um mundo possível seja pela conjunção p & q & r & s…, cujas conjunções individuais são as proposições p, q, r, s…Um mundo possível é uma conjunção que compreende cada proposição ou sua contradição, de forma que ela produza uma descrição completa da realidade – nada é deixado para trás em tal descrição. Ao negar diferentes conjunções em uma descrição completa nós chegamos a diferentes mundos possíveis.

W1: p & q & r & s…
W2: p & não-q & r & não-s…
W3: not-p & não-q & r & s…
W4: p & q & não-r & s…

Apenas uma destas descrições será composta inteiramente por proposições verdadeiras e será, então, a maneira como a realidade verdadeira se apresenta, isto é, o mundo real.

Uma vez que nós estamos falando sobre mundos possíveis, as várias conjunções que compreendem um mundo possível devem ser capazes de ser verdade tanto individualmente como juntas. Por exemplo, a proposição “O Primeiro Ministro é um número primo” não é nem possivelmente verdadeira, porque números são objetos abstratos que não podem ser concebidos em identidade com um objeto concreto como o Primeiro Ministro. Portanto, qualquer mundo possível não pode ter esta proposição como uma de suas conjunções; sua negação, entretanto, será uma conjunção de qualquer mundo possível. Esta proposição é necessariamente falsa, isto é, ela é falsa em qualquer mundo possível. Em contraste, a proposição “George McGovern é o presidente dos Estados Unidos” é falsa no mundo real, mas poderia ser verdadeira, então ela é uma conjunção presente em alguns mundos possíveis. Dizer que George McGovern é o presidente dos Estados Unidos em algum mundo possível é dizer que existe uma completa descrição da realidade tendo esta proposição em questão como uma de suas conjunções. De forma similar, dizer que Deus existe em algum mundo possível é dizer que a proposição “Deus existe” é verdadeira em alguma descrição completa da realidade.


Agora, em sua versão do argumento ontológico, Plantinga concebe Deus como um ser que é “maximamente excelente” e todo mundo possível. Plantinga usa o termo “maximamente excelente” para incluir propriedades como onisciência, onipotência e perfeição moral. Um ser que tenha excelência máxima em cada mundo possível teria o que Plantinga chama de “grandeza máxima”. A partir disto, Plantinga argumenta,

1. É possível que um ser maximamente grande exista.
2. Se é possível que um ser maximamente grande exista, então um ser maximamente grande existe em algum mundo possível.
3. Se um ser maximamente grande existe em algum mundo possível, então ele existe em cada mundo possível.
4. Se um ser maximamente grande existe em cada mundo possível, então ele existe no mundo real.
5. Se um ser maximamente grande existe no mundo real, então um ser maximamente grande existe.
6. Portanto, um ser maximamente grande existe.

Premissa 1

Você pode ficar surpreso em aprender que os passos (2) a (6) do argumento são relativamente não controversos. A maioria dos filósofos concordaria que se a existência de Deus for ao menos possível, então ele precisa existir. A principal questão a ser tratada com respeito ao argumento ontológico de Plantinga é que garantia existe para pensarmos que a premissa chave “É possível que um ser maximamente grande exista” seja verdadeira.

A ideia de um ser maximamente grande é intuitivamente uma ideia coerente, e portanto parece ser plausível que este ser possa existir. A fim de que o argumento ontológico falhe, o conceito de grandeza máxima precisa ser incoerente, como o conceito de “solteiro casado”. O conceito “solteiro casado” não é um conceito estritamente autocontraditório (como o conceito de um homem “casado não-casado”), mas ainda é óbvio que, uma vez entendido o significado das palavras “solteiro” e “casado”, então nada correspondente a este conceito pode existir. Em contraste, o conceito de um ser maximamente grande não parece ser, nem mesmo de forma remota, incoerente. Isto fornece uma garantia prima facie para pensarmos que é possível que um ser maximamente grande exista.

A Resposta de Dawkins

Dawkins dispensa sete páginas cheias, repletas de sarcasmo, ao tratar sobre o argumento ontológico, sem levantar qualquer objeção séria ao argumento de Plantinga. Ele cita de passagem a objeção de Immanuel Kant de que existência não é uma perfeição; mas uma vez que o argumento de Plantinga não pressupõe isto, então nós podemos deixar esta irrelevância de lado. Ele reitera uma paródia do argumento, criada para mostrar que Deus não existe porque um Deus “que criou todas as coisas enquanto não existia” é maior do que aquele que, existindo, criou todas as coisas. [48] Ironicamente, porém, longe de minar o argumento ontológico, esta parodia na verdade a reforça. Pois um ser não existente que cria todas as coisas é uma incoerência lógica, e portanto impossível: não há mundo possível que contenha um ser não existente que cria coisas. Se o ateu vai sustentar – e ele precisa sustentar – que a existência de Deus é impossível, o conceito de Deus deve ser, de forma similar, incoerente. Mas não é. Isto suporta a premissa (1).

Dawkins ainda comenta, “Esqueci os detalhes, mas uma vez causei revolta numa reunião de teólogos e filósofos por ter adaptado o argumento ontológico de forma que ele provasse que os porcos sabem voar. Eles se sentiram impelidos a recorrer à Logica Modal para provar que eu estava errado.” [49] Isto é tão embaraçoso. O argumento ontológico é apenas um exercício em lógica modal – a lógica da possibilidade e da necessidade. Eu até consigo imaginar Dawkins fazendo um espetáculo de si mesmo nesta conferência profissional com sua paródia espúria, assim como ele se embaraçou na conferência da Fundação Templeton em Cambridge com sua objeção ao argumento teleológico!

Conclusão

Nós examinamos cinco argumentos tradicionais para a existência de Deus à luz da filosofia moderna, ciência e matemática:

1. O argumento cosmológico da contingência 2. O argumento cosmológico kalam, baseado no início do universo. 3. O argumento moral, baseado nos valores morais objetivos. 4. O argumento teleológico do ajuste fino. 5. O argumento ontológico, da possibilidade da existência de Deus para sua existência.

Estes são, eu acredito, bons argumentos para a existência de Deus. Isto é: eles são logicamente válidos; suas premissas são verdadeiras; e suas premissas são mais plausíveis, à luz das evidências disponíveis, do que suas negações. Portanto, como somos pessoas racionais, nós temos que abraçar suas conclusões. Muitas outras coisas ainda não foram ditas. [50] Eu indico os trabalhos citados nas notas finais e a bibliografia utilizada, caso você deseje explorar mais. Mas eu acredito que o suficiente foi dito aqui para mostrar que os argumentos teístas tradicionais permanecem incólumes ante as objeções levantadas pelos novos ateus, como Richard Dawkins.

[47] Alvin Plantinga, The Nature of Necessity (Oxford: Clarendon, 1974); Robert Maydole, “A Modal Model for Proving the Existence of God,” American Philosophical Quarterly 17 (1980): 135–42; Brian Leftow, “The Ontological Argument,” in The Oxford Handbook for Philosophy of Religion (ed. William J. Wainwright; Oxford University Press, 2005), 80–115.
[48] Dawkins, Deus, um delírio, 119-120.
[49] Ibid., 120.
O texto foi traduzido por Eliel Vieira e retirado do site ibpan.com.br.
Para Pense Bíblia, retirado de Teologando.

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