domingo, 4 de agosto de 2013

O Dilúvio

Por Bob Deffinbaug




INTRODUÇÃO

 O mundo sabe muito pouco sobre a Bíblia, mas poucos desconhecem a história da arca de Noé. Existem brincadeiras sobre ela, quadros, filmes sobre sua procura e até mesmo representações em cerâmica. O conhecimento a respeito do dilúvio é quase universal, mesmo fora do relato bíblico do livro de Gênesis.

“Parece que devemos concluir que o dilúvio, se não engolfou toda a terra, pelo menos engolfou toda a raça humana, devido a certas indicações na narrativa de Gênesis, bem como porque tais relatos são encontrados em todos os continentes e entre quase todos os povos da terra. Esses relatos se referem a um dilúvio destrutivo ocorrendo logo no início de suas respectivas histórias. Em cada caso somente um ou poucos indivíduos foram salvos e foram encarregados de repovoar a terra. Até agora os antropologistas já reuniram cerca de 250 a 300 dessas histórias a cerca do dilúvio.”[1]

Esta familiaridade com a história é o maior obstáculo para o aproveitamento de seu estudo em Gênesis. Chegamos ao texto com a cabeça feita, achando que não há nada de novo ou muito pouco sobre ele que deveria mudar nosso pensamento ou comportamento.

 Suponhamos, por exemplo, que o tema da história seja o julgamento e a destruição, o que, de certa forma, é verdade. Holywood criaria muita coisa com esse acontecimento. Veríamos todas as formas de atos pecaminosos graficamente retratados na tela. Quando o enredo não pudesse mais sustentar a produção de cenas de luxúria, o foco se voltaria para a destruição e a violência. Famílias seriam drasticamente separadas por torrentes tempestuosas. Mães seriam arrancadas de seus bebês. Prédios rachariam e se desmoronariam na inundação.

 Ainda que esta pareça ser a força propulsora da história, nenhuma palavra pode ser encontrada para des-crever o processo real que resultou em agonia, sofrimento e morte. Nenhuma cena se passa diante de nossos olhos de tal devastação. O julgamento certamente é um dos temas deste acontecimento, mas, graças a Deus, há um tema muito maior, o da graça salvadora de Deus. Embora não ousemos ignorar os alertas desse texto, não vamos perder de vista também seu encorajamento.

 Enquanto alguns fixam sua atenção no pecado e na devastação do dilúvio, outros tentam encontrar seu significado concentrando-se nos mecanismos da inundação. Embora esteja certo de que aqui existe muita coisa interessante para as mentes científicas, deixe me simplesmente preveni-los de que, muitas coisas propostas em nome da ciência, são apenas teoria e especulação. Não desejo de forma alguma desacreditar ou desencorajar tais esforços. Só desejo dizer que não ousamos construir nossas vidas sobre eles, e ressaltar que este tipo de abordagem não enfoca o propósito principal do relato do dilúvio em Gênesis.

 O propósito desta lição não é uma análise detalhada do evento, e sim uma boa olhada no significado e na mensagem do dilúvio para os homens de todas as épocas. Com isto em mente, vamos voltar nossa atenção ao a-contecimento.

PREPARAÇÃO
(6:9 – 7:5)

 Falando de um modo geral, esta seção trata dos preparativos necessários para o dilúvio. As razões para ele são dadas nos versos 9 a 12. A revelação a seu respeito é dada a Noé nos versos 13 a 21. A ordem para entrar na arca é dada em Gênesis 7:1-4. Gênesis 6:22 e 7:5 registram a obediência de Noé às instruções divinas.

 Os versos 9 a 12 do capítulo 6 e os últimos versos do capítulo 8 são os mais importantes desta passagem, porque eles ressaltam as razões para o dilúvio e o propósito fundamental de Deus para a história. Por esta razão dedicaremos a maior parte de nossa atenção aos primeiros e aos últimos versos concernentes ao dilúvio e às passagens do Novo Testamento que tratam desse mesmo assunto.

 Enquanto que a intenção do dilúvio foi a destruição da raça humana, a arca foi designada para salvar Noé e sua família e assegurar o cumprimento do propósito divino para a criação e da promessa de salvação de Gênesis 3:15. A chave para o nosso entendimento do acontecimento está na compreensão do contraste entre Noé e seus contemporâneos.

 Noé foi um homem justo, íntegro em sua época; Noé andava com Deus (Gênesis 6:9).

 Que epitáfio! Noé foi um homem justo. O caráter de Noé é descrito por duas palavras: justiça e integridade. A palavra justiça (no hebraico saddiq)

… é uma palavra comumente usada com referência aos homens. Significa que eles se ajustam a um padrão. Desde que Noé se ajustou ao padrão divino, ele encontrou a aprovação de Deus. No entanto, o termo é basicamente forense. Por isso, apesar de haver a aprovação divina, esta não implica em perfeição por parte de Noé. Implica simplesmente em que, aquelas coisas que Deus procura num homem, estavam presentes em Noé.[2]

Sem nenhuma pretensão de perfeição, Noé foi um homem que guardou a Palavra de Deus. Ele satisfez a expectativa de Deus para o homem, enquanto que o resto da humanidade era vil.

A segunda expressão usada para Noé é “íntegro” (verso 9). A palavra hebraica é tamim. “Desde que a raiz hebraica envolve a idéia de “completo”, é justificado concluir que somente aquela foi uma vida completa sob todos os aspectos, e em todos os sentidos, sem faltar nenhuma qualidade essencial.”[3]

Adiante dessas duas expressões técnicas, Moisés resumiu a justiça de Noé ao escrever “Noé andava com Deus” (Gênesis 6:9).

 Aqui é enfatizada a amizade entre Noé e Deus, a intimidade de sua união. Bem como é refletida a continuidade desse relacionamento. Foi um caminhar diário, algo confiável.

 Indubitavelmente o relacionamento entre Noé e Deus era baseado na revelação a cerca da criação do homem e sua queda. Mais especificamente, incluiria a promessa de redenção de Gênesis 3:15. Possivelmente envolveria também alguma outra revelação que não nos foi registrada por Moisés.

 Creio que a justiça de Noé era baseada mais em sua fé em Deus do que no temor das conseqüências da desobediência. Que eu saiba, Noé não tinha idéia de que o julgamento divino devia sobrevir à terra até que Deus lhe revelou pessoalmente (verso 13 e ss). Esta revelação do derramamento da ira divina foi dada em conseqüência do relacionamento de Noé com Deus. Caso os homens tivessem sido avisados do dilúvio que haveria de vir, poderiam muito bem ter obedecido a Deus pelo simples temor da punição. O relacionamento entre Noé e Deus não era motivado por tal temor, mas pela fé. Fé, não medo, é o motivo bíblico para o relacionamento com Deus (apesar de haver algo como um certo temor piedoso).

 Vamos ser bem claros a respeito da justiça de Noé. Foi aquela justiça que vem pela fé.

 “Pela fé, Noé, divinamente instruído a cerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem pela fé.” (Hb. 11:70)

 Não foram as obras de Noé que o preservaram do julgamento, mas a graça. “Mas Noé achou graça diante do Senhor” (Gênesis 6:8). Salvação é pela graça, mediante a fé, não por obras, mas para boas obras. (Efésios 2:8-10).

 Em contraste com a justiça de Noé estava a corrupção do homem. “A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência. Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida, porque todo o ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra.” (Gênesis 6:11-12)

 Só Noé era justo em seus dias. “Disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio desta geração.” (Gênesis 7:1)

 O que isto diz de sua família, não sei, mas quem poderia deixar de acreditar que todos que estiveram na arca não creram em Deus, pelo menos depois do dilúvio! Não havia outra pessoa justa para ser introduzida na arca, pois ninguém mais andava com Deus. Todos os justos relacionados no capítulo cinco morreram antes do dilúvio ter ocorrido.

Os homens eram depravados e corruptos por dentro e em si mesmos. O que Deus decidiu destruir já era auto-destruição.[4] O relacionamento do homem com seu semelhante poderia ser resumido numa palavra – violência.

 Quero que percebam que, em lugar algum Moisés especifica quais são os pecados desta geração. Tal coisa poderia despertar nossa curiosidade ou luxúria. Mais que isto, não creio que o povo daquela época foi destruído por ter se tornado uma sociedade totalmente decadente. O pecador que espanca sua esposa, ou é homossexual, ou vive com uma garrafa derrapando na estrada não é, necessariamente, a pessoa mais vil aos olhos de Deus. Desconfio que muitos dentre aqueles que pereceram fossem pessoas religiosas. Imagino que a sociedade daquela época fosse pouco diferente, em seu caráter, de muitas outras, com uma notável exceção – aparentemente não tinham nenhuma restrição. O ponto é que homens educados, de cara limpa, gentis com senhoras idosas, e assim por diante, mas que trapaceiam em seu imposto de renda ou tiram proveito às custas da dignidade de alguém, são tão pecadores quanto aqueles cujos pecados são socialmente inaceitáveis.

 A principal expressão do pecado do homem está em sua rebelião e espírito independente diante de Deus. Ele supõe que, ainda que Deus exista, Ele não se importa com a conduta do homem ou com suas crenças. E, se Deus se importa, é muito pouco. E o pior de tudo é a conclusão de que isso não é, de qualquer forma, da conta de Deus.

 Observe a condenação de Deus para este tipo de atitude:

 “Então, me respondeu: A iniquidade da casa de Israel e de Judá é excessivamente grande, a terra se encheu de sangue, e a cidade, de injustiça, e eles ainda dizem: O Senhor abandonou a terra, o Senhor não nos vê.” (Ez. 9:9)

 As inclinações perversas do homem estão pairando no inferno flamejante por causa da sugestão ou crença de que, ainda que Deus exista, Ele não se preocupa com o pecado nem intervém na história humana para tratar dele. Esse tipo de pensamento é fatal.

Deus não ocultou Seus propósitos de Noé. Ele revelou a ele Sua decisão de destruir a perversa civilização daquela época e ainda assim preservar Noé e o descendente através do qual a promessa de salvação seria concretizada. Foi revelado a Noé que esta destruição aconteceria através de um dilúvio, e que a salvação para ele e sua família seria por meio de uma arca.[5]

Ainda que não fosse necessário para nós o registro de todas as instruções para a construção da arca, devemos notar que os detalhes dados são específicos, mesmo no que se refere à coleta de alimento. A arca era um barco inacreditável, 450 pés de comprimento, 75 pés de largura, e 45 pés de altura (6:15). Serviria para salvar tanto o homem quanto os animais.

A PRESERVAÇÃO DO HOMEM E DOS ANIMAIS
(7:6 – 8:19)

 A arca, agora já pronta, tendo sido construída ao longo de muitos anos de acordo com o plano divino, é ocupada ao comando de Deus (7:1) pelo homem e pelos animais. Antes que o dilúvio começasse, Deus fechou a porta. Imagino que se Deus não tivesse feito assim, Noé a teria aberto para aqueles que mais tarde quisessem entrar; mas o dia da salvação devia chegar ao fim.

 A fonte de água parece sobrenatural. Bem podia ser que jamais tivesse chovido (cf. 2:6). Agora a chuva caía em torrentes. Além disso, as “fontes do grande abismo” (7:11) foram abertas. Água de cima e debaixo irrompeu por quarenta dias (7:12). As águas prevaleceram sobre a terra por 150 dias (7:24), e então baixaram em alguns meses. Cinco meses depois que o dilúvio começou a arca repousou sobre o monte Ararat (8:4, cf. 7:11). Levou um tempo considerável para as águas retrocederem e o solo ficar seco o suficiente para se andar sobre ele. Foi pouco mais de um ano que Noé e sua família passaram na arca. Ao comando do Senhor eles alegremente (tenho certeza) desembarcaram.



A PROMESSA
(8:20-22)

 O primeiro ato de Noé ao colocar o pé em terra foi oferecer sacrifícios a Deus. Foi mais uma evidência de sua fé, e certamente uma expressão de sua gratidão pela salvação que Deus havia providenciado.

 Em resposta ao sacrifício de Noé, Deus fez uma promessa solene. Quero que entendam, no entanto, que este foi um compromisso firmado na mente de Deus – é uma promessa que Ele mesmo decidiu fazer. A expressão dessa decisão é dada a Noé no capítulo 9. Isto é o que Deus propôs Consigo mesmo:

 “E o Senhor aspirou o suave cheiro e disse Consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz. Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.” (Gênesis 8: 21-22)

 A resolução de Deus é que Ele nunca mais amaldiçoaria a terra ou destruiria todas as coisas viventes como fizera. Por que Deus assumiria tal compromisso? Certamente Ele não estava triste pelo que havia feito. O pecado tinha que ser julgado, não?

 O problema com o dilúvio foi que seus efeitos foram apenas temporários. O problema não estava na criação, mas no pecado. O problema não estava nos homens, mas no homem. Apagar a lousa e começar tudo de novo não é o bastante, pois o que é preciso é um novo homem para a criação. Isto é o que a criação ardentemente espera.

 “Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.” (Romanos 8:20-21)

 Deus decidiu, então, lidar diferentemente com o pecado no futuro. Embora o pecado tenha sofrido um atraso provisório com o dilúvio, sofrerá um golpe fatal com a vinda do Messias. É nessa época que os homens se tornarão novas criaturas (II Coríntios 5:17). Depois que Deus tratar dos homens, providenciará também um novo céu e uma nova terra (II Pedro 3:13).

 Em resposta à expressão de fé de Noé através da oferta sacrificial, a promessa da salvação final é renovada. Até aquele dia quando esta salvação será consumada, Deus assegura ao homem que medidas como o dilúvio não ocorrerão novamente.

O SIGNIFICADO DO DILÚVIO PARA OS HOMENS DE TODAS AS ÉPOCAS

 Antes de mais nada, o dilúvio é para nós um lembrete da graça ímpar de Deus. Enquanto os descrentes encontraram julgamento, Noé encontrou graça (Gênesis 6:8).

 Até certo ponto, todas as pessoas daquela época experimentaram a graça de Deus. Foi somente 120 anos depois da revelação do julgamento vindouro que ele realmente alcançou os homens. Esse período de 120 anos foi uma época de graça na qual o evangelho foi proclamado.

 A diferença entre Noé e aqueles que pereceram foi sua resposta à graça de Deus. Aqueles que pereceram interpretaram a graça de Deus como indiferença divina. Eles concluíram que Deus não Se preocupava nem Se perturbava com o pecado dos homens.

 Noé, por outro lado, reconheceu a graça pelo que ela realmente é – uma oportunidade para entrar em íntimo relacionamento com Deus, e, ao mesmo tempo, evitar o desprazer e julgamento divinos. Os anos de Noé foram gastos em andar com Deus, construir a arca e proclamar a Palavra de Deus.

 A graça de Deus fica claramente evidente nesta promessa: “Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.” (Gn. 8:22)

 Eis a ironia de nossos dias. Como nos dias de Noé, o pecador perdido olha para a vida como ela é e pergunta: “Como Deus podia estar lá, afinal, e não fazer nada para endireitar as coisas, e colocá-las em ordem?” Ele conclui que Deus ou está morto, apático, ou é incapaz de tratar do mundo como ele é, desprezando o aviso de II Pe. 3:8-9:

 “Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada, pelo contrário, Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.”

 Como Noé, o crente reconhece que a vida como ela é é reflexo do controle soberano de um Deus gracioso sobre todas as coisas:

 “Pois, Nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio Dele e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” (Colossenses 1:16-17)

 A continuidade de todas as coisas como elas são – dia e noite, verão e inverno, frio e calor – faz o cristão se ajoelhar diante de Deus em louvor e submissão ao Seu cuidado providencial. Os não-cristãos, no entanto, distorcem esta promessa do cuidado providencial de Deus como desculpa para pecar:

 “Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa de sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.” (II Pe. 3:3-4).

 Eles falham em reconhecer que este tempo é dado aos homens para que se arrependam e se reconciliem com Deus. No entanto, justamente como o tempo da graça terminou nos dias de Noé, assim será para os homens hoje:

 “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.” (II Pe. 3:10)

 Nosso Senhor ensinou que os dias anteriores à Sua segunda vinda para julgar a terra seriam justamente como aqueles anteriores ao dilúvio:

 “Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem.” (Mt. 24:37-39)

 Estes dias não são descritos em termos de sensualidade e decadência, mas de normalidade – coisas comuns. Os homens dos últimos dias estarão fazendo o que sempre fizeram. Não há nada de errado em comer e beber, dar-se em casamento, ou comprar e vender. O que é errado é fazer essas coisas sem Deus, e supor que podemos pecar como nos apraz sem pagar o preço. A época da graça terminará. Vamos responder corretamente à graça de Deus.

 Segundo, somos instruídos sobre a ira de Deus. Aprendemos com o dilúvio que, enquanto a ira de Deus é tardia, ela também é certa. O julgamento, afinal, deve ser lançado sobre aqueles que rejeitam a graça de Deus.

 Que fique muito claro que, ainda que a ira e o julgamento sejam certos, eles não dão prazer ao coração de Deus. Em lugar nenhum desta passagem há a descrição em detalhes de quaisquer cenas de angústia e sofrimento. Mesmo os olhos de Noé foram poupados de presenciar o tormento sofrido por aqueles que morreram no dilúvio. A arca não tinha vigias ou janelas para se olhar a destruição feita por Deus. A única abertura era aquela no topo da arca para permitir que a luz brilhasse lá dentro.

 Deus não se deleita no julgamento, nem o prolonga desnecessariamente, mas ele é uma certeza para aqueles que resistem à Sua graça. Não se engane, meu amigo, haverá um tempo em que a oferta de salvação será retirada.

 Há algum tempo atrás visitei uma mulher que estava morrendo de câncer. Não foi possível compartilhar o evangelho com ela em minha primeira visita porque ela tinha sido levada para terapia. Quando bati à sua porta em minha segunda visita, seu marido atendeu e a abriu o suficiente para que eu visse a mulher, obviamente enfraquecida por causa da doença. Quando ele lhe perguntou se ela queria falar comigo, ela sacudiu a cabeça em negativa. Não a vi mais antes de sua morte.

 Muitas pessoas parecem pensar que poderão esperar até estar com um pé no túmulo e outro numa casca de banana para serem salvas. Normalmente não acontece desse jeito. Deus silenciosamente fecha a porta da salvação. Quando vivemos nossas vidas em pecado e rebelião contra Deus, não nos será dado o luxo de tomar a decisão no leito de morte. Às vezes acontece, concordo, mas raramente.

 Além disso, muitas vezes o julgamento de Deus também permite que as coisas tomem seu próprio rumo. O relato do dilúvio quase parece a criação revertida às condições do segundo dia (Gênesis 1:6-7).

 Está escrito no livro de Colossenses que nosso Senhor Jesus Cristo é o Criador e Sustentador do Universo (Colossenses 1:16-17). Os homens que rejeitam a Deus vivem como se Ele não existisse de forma alguma. Na Grande Tribulação, Deus vai dar aos homens sete anos para descobrirem como é viver sem Deus. A mão de Deus que controla e restringe será retirada. O julgamento de Deus muitas vezes dá aos homens o que eles querem e o que eles merecem – as conseqüências naturais de suas ações.

 Finalmente, vamos considerar o assunto da salvação de Deus. Devemos observar que, no caso de Noé, o caminho de Deus para a salvação era restritivo. Deus providenciou somente um meio para a salvação (uma arca) e apenas uma porta. Os homens não poderiam ser salvos do jeito que quisessem, mas somente do jeito de Deus. Tal é a salvação que Deus oferece aos homens hoje.

 “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João 14:6).

 A salvação através da arca também foi instrutiva. Ela nos dá uma figura da salvação que foi cumprida em Cristo. Para aqueles dos dias de Moisés foi um “tipo” de Cristo. A diferença entre aqueles que foram salvos e aqueles que pereceram no dilúvio foi a diferença entre estar dentro ou fora da arca.

 Todos os que foram salvos e todos os que morreram passaram pelo dilúvio. Mas os que sobreviveram foram aqueles que estavam na arca, que os abrigou dos efeitos do divino desprazer de Deus pelo pecado. Tanto os que estavam na arca quanto os que estavam fora dela sabiam de sua existência e foram informados de que Deus avisou sobre o julgamento que viria. Alguns escolheram ignorar estes fatos, apesar de Noé tê-los avisado.

 Assim é hoje. Deus disse que haveria um castigo para o pecado – a morte. Aqueles que estão em Cristo pela fé recebem a ira de Deus em Cristo. Na cruz do Calvário a ira de Deus foi derramada sobre o Filho de Deus sem pecado, Jesus Cristo. Aqueles que Nele confiam têm experimentado a salvação de Deus em Cristo. Aqueles que se recusam a confiar Nele e estar Nele por um ato da vontade, devem sofrer a ira de Deus fora de Cristo, nossa arca. Saber a respeito de Cristo não salva um homem mais do que saber que a arca salvou homens no tempo de Noé. É estando na arca, estando em Cristo, que salva!

 O caminho para a salvação de Deus não foi glamuroso. Creio que muitos estariam a bordo do Queen Mary se Noé o tivesse construído, mas não na arca. A arca era pouco atrativa aos olhos, mas foi suficiente para a tarefa de salvar homens do dilúvio.

 Muitos se recusam a serem salvos se isso não for realizado de algum jeito glorioso, que seja atrativo e aceitável. Eu não iria querer passar um ano preso com animais barulhentos e malcheirosos mais do que você, mas esse era o jeito de Deus.

 Nosso Senhor Jesus, quando veio oferecer salvação aos homens, não veio como Aquele que tem um grande magnetismo ou atração pessoal. Como Isaías falou a Seu respeito 700 anos antes de Sua vinda:

 “Não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse.” (Isaías 53:2)

 Muitos viriam à salvação se o apelo fosse carnal. A salvação de Deus não é deste tipo.

 Às vezes os cristãos caem nesse mesmo ponto. Pensam que o jeito de Deus é um jeito glorioso. Só milagres e maravilhas. Sem sofrimento, sem dor, sem agonia, sem pesar. Devo lhes dizer que o jeito de Deus nem sempre é tão glorioso quanto possamos desejar, mas só ele é o caminho para a libertação, gozo e paz.

 E esta salvação que Deus providenciou é aquela que foi recebida pela fé na Sua Palavra revelada. Provavelmente Noé jamais tenha visto a chuva, ou ouvido o estrondo de um trovão. Mas Deus disse que haveria de vir um dilúvio e que ele tinha que construir uma arca. Noé creu em Deus e agiu de acordo com sua fé.

 A fé de Noé não foi uma fé acadêmica – simples fé num princípio, mas uma fé ativa – uma fé na prática. Ele passou 120 anos construindo aquela arca, entregando-se a si mesmo ao Deus que ele conhecia. Nossa fé, também, deve ser ativa.

 Dizem que Noé foi um pregador. Não creio que ele falasse com freqüência atrás de um púlpito, mas por trás de uma tábua e de um martelo. Foi o estilo de vida de Noé que condenou os homens de seus dias e os avisou do julgamento por vir. Toda a vida de Noé foi moldada por sua certeza de que o julgamento de Deus estava chegando.

Nós, que somos cristãos, sabemos que nosso Senhor voltará outra vez para julgar o mundo. Pergunto-me o quanto isto afeta nossas vidas diárias. Seus vizinhos, e os meus, podem dizer que estamos vivendo à luz do dia em que virá o julgamento e a salvação? Sinceramente espero que sim.

Para ver questões relacionadas ao dilúvio, acessar o artigo: Questões sobre o Dilúvio, também publicado no Teologando.

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Material escrito por Bob Deffinbaug, publicado pelo site Bible.org (http://bible.org/seriespage/flood-genesis-69-822).

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[1] Howard F. Vos, Genesis e Arqueologia (Chicago: Moody Press, 1963), p. 32, Vos, nas páginas seguintes dá um excelente resumo dos mais significativos relatos antigos e sugere sua relação com o relato de Gênesis.

[2] H. C. Leupold, Exposição de Gênesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), I, pp. 264-265.

Leitch define mais adiante o conceito de justiça:

“No uso geral, representa qualquer conformidade com um padrão caso esse padrão tenha a ver com o caráter interno de uma pessoa, ou com o padrão objetivo de uma norma estabelecida. Thayer sugere a definição “o estado daquele que é como ele deve ser. Num sentido mais amplo, se refere àquele que é íntegro e honesto, mostrando integridade, pureza de vida e correção nos sentimentos e ações.” A. H. Leitch, “Justiça”. The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids: Zondervan, 1975, 1976), V. p. 104.

[3] Leupold, I, p. 265.

[4] “O hebraico para corrupto (corrompido) (ou “destruído”) também torna evidente que aquilo que Deus decidiu “destruir” (13) já está virtualmente auto-destruído.: Derek Kidner, Genesis (Chicago: Inter-Varsity Press, 1967), p. 87.

[5] Curiosamente, a palavra usada para arca (te,,ba) deste relato somente é encontrada em um outro lugar, em Êxodo capítulo 2, na “arca” onde o bebê Moisés foi colocado por sua mãe para salvar a criança dos Egípcios.

Material copiado de teologando

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