sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Quem precisa de apologética?

Por Willian Lane Craig

Para começar, eu acredito que devemos distinguir entre a necessidade e a utilidade da apologética. A distinção é importante. Pois, mesmo se a apologética for absolutamente desnecessária, não se segue que ela seja inútil. Por exemplo, não é necessário saber como digitar para se usar um computador – você pode “catar milho”, como eu faço – mas, todavia, a habilidade de digitar é muito útil para usar um computador. Ou, então, não é necessário conservar sua bicicleta para ir pedalar, mas pode ser um benefício real mantê-la em ordem. Da mesma forma, a apologética cristã pode ser de grande utilidade mesmo se não for necessária para algum fim. Assim, em relação à apologética, precisamos nos perguntar não só “quem precisa?” mas também “para que ela serve?”

Apologética cristã pode ser definida como o ramo da teologia cristã que procura apresentar uma garantia e justificação racional das alegações de verdade do Cristianismo. Aqueles que tratam a apologética com desdém tendem a mensurar o valor da apologética focando em sua suposta necessidade de garantir e justificar a crença cristã. Alguns pensadores, particularmente da tradição reformada holandesa, veem esse papel como desnecessário e algumas vezes até como mal orientado.

Ora, concordo plenamente com os epistemólogos reformados contemporâneos, como Alvin Plantinga, que os argumentos e evidências apologéticas não são necessários para que a crença cristã seja garantida e justificada para qualquer pessoa. A alegação dos racionalistas teológicos (ou evidencialistas, como eles erroneamente são chamados hoje) de que a fé cristã é irracional na ausência de evidências positivas é difícil de ser conciliada com as Escrituras, que parecem ensinar que a fé em Cristo pode ser imediatamente fundamentada no testemunho interno do Espírito Santo (Rm 8.14-16; 1 Jo 2.27; 5.6-10), de modo que os argumentos e evidências se tornam desnecessários.


Em outro lugar, eu caracterizei o testemunho do Espírito Santo como auto-autenticado, e por essa noção eu quero dizer:

(1) que a experiência do Espírito Santo é verídica e inconfundível (apesar de não necessariamente ser irresistível ou indubitável) para quem a tem e quem a observa;

(2) que tal pessoa não precisa de argumentos ou evidências suplementares para saber e saber com confiança que ele está, de fato, experimentando o Espírito de Deus;

(3) que tal experiência não funciona, nesse caso, como premissa de qualquer argumento de experiência religiosa com Deus, mas sim é a experiência imediata com o próprio Deus;

(4) que em certos contextos a experiência com o Espírito Santo implica a compreensão de certas verdades da religião cristã, tais como “Deus existe”, “Eu estou reconciliado com Deus”, “Cristo vive em mim”, e assim por diante;

(5) que tal experiência provê não só segurança subjetiva da veracidade do Cristianismo, mas sim conhecimento objetivo dessa verdade; e

(6) que argumentos e evidências incompatíveis com essa verdade são subjugados pela experiência com o Espírito Santo por quem o recebe.

Evidencialistas cristãos talvez insistam que, mesmo se a crença cristã puder ser garantida e justificada na ausência de argumentos apologéticos positivos, ainda assim deve ter, no mínimo, recursos apologéticos defensivos para derrotar as várias objeções com as quais é confrontada. Mas mesmo essa alegação mais modesta é precipitada, pois, se o testemunho do Espírito Santo na vida de uma pessoa é suficientemente poderoso (como deve ser), então isso irá simplesmente se sobrepor a quaisquer objeções dirigidas à crença cristã, desta forma removendo a necessidade de apologética defensiva. Um crente não instruído o suficiente para refutar argumentos anticristãos está garantido em sua crença, baseando-se apenas no testemunho interno do Espírito mesmo quando confrontado com tais objeções irrefutadas. Mesmo quando uma pessoa é confrontada com o que são, para ela, objeções ao teísmo cristão irrespondíveis, ela ainda assim, devido à obra do Espírito Santo, está dentro de seus direitos epistêmicos – digo mais, sob obrigação epistêmica – de crer em Deus. Visto que crenças pautadas no testemunho objetivo e verídico do Espírito são parte das invalidáveis considerações da razão, a fé do crente é garantida mesmo se não tiver nenhuma noção de argumentos apologéticos (como é o caso da maioria dos cristãos atuais e ao longo da história da Igreja)

Por contraste, o evidencialista cristão encara duras dificuldades:

(1) Ele negaria o direito à fé cristã a todos aqueles que carecem da habilidade, do tempo, ou da oportunidade de entender e avaliar argumentos e evidências. Essa consequência iria, indubitavelmente, entregar milhões de pessoas que são cristãs à descrença.

(2) Aqueles aos quais foram apresentados mais argumentos convincentes contra o teísmo cristão teriam uma desculpa justa perante Deus para sua descrença. Mas as Escrituras dizem que todos os homens não tem desculpa para não responder à revelação que possuem (Rm 1.21).

(3) Essa visão cria um tipo de elite intelectual, um sacerdócio de filósofos e historiadores, que iriam ditar às massas da humanidade se é ou não racional acreditar no Evangelho. Mas certamente a fé está disponível para todos aqueles que, respondendo à ação do Espírito, invocam o nome do Senhor.

(4) A fé fica sujeita às excentricidades da razão humana e das areias movediças das evidências, tornando a fé cristã racional em uma geração e irracional na seguinte. Mas o testemunho do Espírito torna contemporâneas a Cristo todas as gerações e, assim, assegura uma base sólida para a fé.

Portanto, na verdade, não penso que a apologética é necessária para que a fé cristã seja garantida e justificada. Mas não se segue daí que a apologética cristã seja, portanto, inútil ou não tenha nenhum beneficio em garantir e justificar a fé cristã. Se os argumentos da teologia natural e das evidências cristãs são bem sucedidos, a crença cristã é garantida por tais argumentos e evidências para a pessoa que os compreende, mesmo se ainda assim essa pessoa estivesse garantida na ausência de tais argumentos. Tal pessoa é duplamente garantida e justificada em sua crença cristã, já que dispõe de duas fontes de garantia e justificação racional.

Pode-se pressentir os grandes benefícios de ter essa dupla garantia racional para as crenças cristãs. Ter argumentos persuasivos para a existência de um Criador e Projetista do universo ou evidências para a credibilidade histórica dos relatos do Novo Testamento sobre a vida de Jesus, tudo isso unido ao testemunho interno do Espírito, pode aumentar a confiança na veracidade das alegações de verdade do Cristianismo. No modelo epistemológico de Plantinga, no mínimo, teríamos uma garantia racional ainda maior para crer em tais alegações. Maior garantia racional pode fazer um descrente abraçar a fé mais prontamente ou inspirar um crente a compartilhar a sua fé com mais confiança. Além do mais, a disponibilidade de garantia racional para a veracidade das alegações de verdade do Cristianismo independente do testemunho do Espírito pode ajudar a predispor um descrente a responder à ação do Espírito quando ouvir o Evangelho e pode prover ao crente um suporte epistêmico em tempos de deserto espiritual ou de dúvida quando o testemunho do Espírito parece obscurecido. Pode-se imaginar inúmeras outras formas onde a posse de dupla garantia racional para as alegações do Cristianismo poderia ser benéfica.

Então, fica a seguinte pergunta: a teologia natural e as evidências cristãs garantem a crença cristã? Eu acredito que sim. Nos meus trabalhos publicados até o momento, tenho formulado e defendido versões dos argumentos cosmológico, teleológico e ontológico para a existência de Deus e também tenho defendido o teísmo contra as mais proeminentes objeções à crença em Deus apresentadas por pensadores ateístas, tais como o problema do mal, o ocultamento de Deus, e a coerência do teísmo. Além do mais, tenho argumentado a favor da autenticidade das radicais alegações pessoais de Jesus e a historicidade do túmulo vazio, suas aparições post mortem a vários indivíduos e grupos, e a inesperada crença dos primeiros discípulos de que Deus o havia ressuscitado dos mortos. Além disso, tenho argumentado que a melhor explicação para esses fatos é a explicação dada pelos próprios discípulos: Deus ressuscitou Jesus de entre os mortos.

Se esses argumentos estão corretos, a crença no teísmo cristão é garantida pela teologia natural e pelas evidências cristãs, como também pelo testemunho interno do Espírito Santo. Dessa forma, conquanto os argumentos apologéticos não sejam necessários para que saibamos que o Cristianismo é verdadeiro, ainda assim eles são suficientes, e essa dupla garantia racional para as crenças cristãs pode ser de grande ajuda. Assim, o sucesso da epistemologia reformada e a falha do racionalismo teológico de nenhuma forma implicam que a apologética é inútil ou não é importante.

Mais do que isso: mesmo se a apologética cristã não for necessária em relação à garantia racional da crença cristã, a apologética cristã pode ser útil e mesmo necessária para muitos outros fins. Permitam-me mencionar três fins para cuja realização a apologética cristã desempenha um papel vital.

1. Transformação da cultura.

A apologética é útil e pode ser necessária para que o Evangelho seja efetivamente ouvido na sociedade ocidental atualmente. De modo geral, a cultura ocidental é profundamente pós-cristã. É produto do Iluminismo, que introduziu na cultura europeia o fermento do secularismo que já impregnou toda a sociedade ocidental. O marco do Iluminismo era o “livre pensamento”, isto é, a busca de conhecimento somente pela razão humana, sem restrições. Apesar disso não levar necessariamente a conclusões não-cristãs e apesar de que a maioria dos pensadores Iluministas eram teístas, foi esse profundo impacto da mentalidade Iluminista que fez com que os intelectuais ocidentais não mais considerassem possível o conhecimento teológico. Teologia não é fonte de conhecimento genuíno e, portanto, não é ciência. Razão e religião são, portanto, contrários entre si. Somente as opiniões das ciências físicas são tidas como guias autoritativos para o nosso entendimento do mundo, e a confiante suposição é que a imagem de mundo que emerge das ciências genuínas é uma imagem completamente naturalista. Quem segue a busca da razão sem retroceder acaba por se tornar ateu ou, na melhor das hipósteses, agnóstico.

Por que essas considerações culturais são importantes? Simplesmente porque o Evangelho nunca é ouvido no isolamento. É sempre ouvido no contexto cultural em que vivemos. Uma pessoa que cresce em contexto cultural onde o Cristianismo ainda é visto como uma opção intelectualmente viável demonstrará uma abertura ao Evangelho muito maior do que uma pessoa que vive em ambiente secularizado. Para uma pessoa secularizada, acreditar em fadas e duendes é o mesmo do que acreditar em Jesus Cristo! Ou, para dar uma ilustração mais realista, é como se fossemos abordados nas ruas por um devoto de Hare Krishna que nos convida a crer em Krishna. Para nós tal convite soará bizarro, estranho e até engraçado. Mas para uma pessoa nas ruas de Bombai, tal convite seria, suponho eu, causa de reflexão séria e razoável. Temo que os evangélicos pareçam tão estranhos para as pessoas nas ruas de Bonn, Estocolmo ou Paris quanto o são os devotos de Krishna.

O que nos espera na América do Norte, se a secularização continuar da forma que está, já é evidente na Europa. Apesar de a maioria dos europeus permanecer afiliada nominalmente ao Cristianismo, somente 10% são praticantes, e menos da metade desses são evangélicos em sua teologia. A tendência mais significativa na afiliação religiosa europeia é o crescimento daqueles que se denominam como “não-religiosos”, que foram de 0% da população em 1900 para mais de 22% hoje. Como resultado, a evangelização é imensuravelmente muito mais difícil na Europa do que nos Estados Unidos. Tendo vivido na Europa por treze anos, onde eu falei e evangelizei nos campi de várias universidades por todo o continente, eu posso testemunhar pessoalmente quão difícil é a situação. É difícil para o evangelho sequer ser ouvido. Por exemplo, eu lembro claramente que, quando falei na Universidade do Porto, em Portugal, os estudantes eram tão incrédulos em relação ao perfil de um intelectual cristão com doutorados de duas universidades europeias que eles suspeitaram que eu fosse um impostor. Chegaram a telefonar para a Universidade de Louvain, na Bélgica, onde eu era pesquisador visitante, para confirmar minha filiação à Universidade!

Os Estados Unidos estão seguindo o mesmo caminho, estando o Canadá mais a frente. A imersão do Canadá no secularismo tem sido precipitada. Em 1900 os evangélicos representavam 25% da população canadense. Em 1989 os evangélicos canadenses caíram para menos de 8% da população. Minha experiência em falar em campi de universidades canadenses sugere que o Canadá incorpora um tipo de cultura meso-atlântica mais próxima do secularismo europeu do que o seu vizinho do sul. Pluralismo e relativismo são a sabedoria convencional das universidades canadenses. O politicamente correto e as leis que restringem a expressão nos debates de importância ética servem como armas para oprimir instituições e idéias cristãs. A imersão do Canadá no secularismo ilustra o quão importante é manter aberto ao Cristianismo o contexto cultural, em vista da efetividade da evangelização. Felizmente, durante a última década os evangélicos canadenses começaram a inverter essa tendência. Mas o retrocesso vai ser muito mais difícil do que o avanço porque isso está na espinha de uma cultura que se tornou oposta à cosmovisão cristã.

É por essa razão que os cristãos que desprezam o valor da apologética pelo fato de “ninguém vir a Cristo através de argumentos intelectuais” têm a visão tão limitada. O valor da apologética vai muito mais além do que o contato evangelístico imediato. A tarefa mais ampla da apologética cristã é ajudar a criar e sustentar um contexto cultural no qual o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para homens e mulheres pensantes. No seu artigo “Christianity and Culture” (Cristianismo e Cultura), o grande teólogo de Princeton J. Gresham Machen afirmou corretamente:

Idéias falsas são o maior obstáculo à aceitação do evangelho. Podemos pregar com todo o fervor de um reformador e ainda assim só conseguir ganhar uma alma aqui e ali, se permitirmos que todo o pensamento coletivo da nação seja controlado por idéias que impedem que o Cristianismo seja visto como nada mais do que uma ilusão inofensiva.

Infelizmente, o alerta de Machen não foi ouvido, e o cristianismo bíblico se restringiu intelectualmente ao isolamento cultural, do qual só começou a sair recentemente.
Agora, grandes oportunidades estão à nossa frente. Vivemos num tempo em que a filosofia cristã está experimentando um renascimento genuíno, revitalizando a teologia natural, numa época em que a ciência está mais aberta à existência transcendental de um Criador e Projetista do cosmos mais do que em qualquer tempo recente, e numa época em que a crítica bíblica tem renovado a busca pelo Jesus histórico, tratando os Evangelhos seriamente como fontes históricas da vida de Jesus e confirmando as principais características do Jesus retratado nos Evangelhos. Estamos intelectualmente equilibrados para ajudar a reformular nossa cultura de tal forma a reconquistar o fundamento perdido, para que o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para pessoas pensantes.

Agora eu posso imaginar alguns de vocês pensando: “Mas nós não vivemos em uma cultura pós-moderna na qual esses apelos à apologética tradicional não são mais eficazes? Visto que os pós-modernos rejeitam os cânones tradicionais da lógica, da racionalidade, da verdade, argumentos racionais a favor da veracidade do Cristianismo não funcionam mais. Ao invés disso, na cultura de hoje deveríamos simplesmente compartilhar nosso testemunho e convidar as pessoas a participar conosco”.

Na minha opinião esse tipo de pensamento não poderia ser mais equivocado. A ideia de que vivemos numa cultura pós-moderna é um mito. Na verdade, uma cultura pós-moderna é uma impossibilidade; seria algo completamente impossível de se viver. Ninguém é pós-moderno quando o assunto é a leitura de uma bula de remédio em contraste com uma caixa de veneno de rato! É melhor você acreditar que esses textos têm um sentido objetivo! As pessoas não são relativistas quando o assunto é ciência, engenharia e tecnologia; mas elas são relativistas e pluralistas em questões de religião e ética. Mas, veja, isso não é pós-modernismo; isso é modernismo! É como o antigo Positivismo e o Verificacionismo, que afirmam que qualquer coisa que você não possa provar com os cinco sentidos é uma simples questão de gosto pessoal e expressão emocional. Vivemos em contexto cultural que continua profundamente modernista.

De fato, eu penso que o pós-modernismo é um dos mais articulados enganos criados por Satanás. “Modernismo está morto”, ele nos diz, “você não deve mais temê-lo. Esqueça-o; está morto e sepultado”. Enquanto isso, o modernismo, fingindo-se de morto, ressurge travestido de pós-modernismo, mascarado como um novo desafio. “Seus velhos argumentos e apologética não são mais eficazes contra esse novo advento”, nos é dito. “Deixe-os de lado; eles não têm nenhum uso. Apenas compartilhe seu testemunho.” De fato, alguns, cansados de longas batalhas com o modernismo, recebem com alívio a chegada do novo visitante. E, assim, Satanás nos engana e faz com que deixemos de lado a lógica e as evidências, que são nossas melhores armas, e assim o modernismo triunfa sobre nós. Se adotarmos essa atitude suicida, as consequências para a Igreja na próxima geração serão catastróficas. O Cristianismo será reduzido a uma simples voz numa cacofonia de vozes que competem entre si, cada uma compartilhando seu testemunho e nenhuma afirmando para si a verdade objetiva sobre a realidade, enquanto o naturalismo científico molda a visão da nossa cultura sobre como o mundo é.

Pois bem, obviamente não é preciso dizer que ao fazer apologética nós temos que ser relacionais, humildes e convidativos; mas isso de maneira alguma é um ideia genial do pós-modernismo. Desde o início, os apologistas cristãos sabiam que deveríamos apresentar a razão da esperança que há em nós com “mansidão e respeito” (1 Pe 3.15). Ninguém precisa abandonar os cânones da lógica, da racionalidade e da verdade para exemplificar essas virtudes bíblicas.

E quanto à ideia de que as pessoas na nossa cultura não estão mais interessadas nem mais respondem positivamente à argumentação e às evidências racionais para o Cristianismo, nada poderia estar mais distante da verdade. Se me permitem falar sobre minhas experiências pessoais, por mais de vinte anos tenho falado e evangelizado em campi de universidades da América do Norte e da Europa, compartilhando o Evangelho ao defender intelectualmente as alegações de verdade cristãs. Sempre termino minhas preleções com uma sessão de perguntas e respostas. Durante todos esses anos ninguém jamais se levantou e disse algo como: “Seu argumento é baseado nos padrões ocidentais e chauvinistas de lógica e racionalidade”, ou expressou outro sentimento pós-moderno. Isso jamais acontece. Se você aborda as questões no nível racional, as pessoas também respondem no nível racional. Se você apresenta evidências científicas e históricas para as alegações de verdade cristãs, os estudantes descrentes podem argumentar com você sobre fatos – que é exatamente o que você quer -, mas eles não atacam a objetividade da ciência ou da história. Se você apresenta uma argumento dedutivo para uma alegação de verdade cristã, os estudantes descrentes podem levantar objeções às suas premissas ou à conclusão – o que é, novamente, exatamente como uma discussão deve proceder -, mas eles não discutem o seu uso da lógica.

Pois bem, também encontro estudantes que suspeitam de um preletor cristão. Por isso eles gostam de ouvir ambos os lados quando uma questão é apresentada. Por essa razão, os debates são algo bastante atrativo para a evangelização universitária. Eu competi por oito anos em debates de colégio, debatendo tópicos sobre política pública como o programa de assistência militar, controle de salários e preços, e assim por diante. Nunca sonhei que o debate se tornaria uma atividade ministerial. Mas logo após terminar meu doutorado em teologia, comecei a receber convites de grupos de estudantes cristãos do Canadá para debater tópicos como “Deus existe?”, “Jesus ressuscitou dos mortos?”, “Humanismo vs. Cristianismo”, e assim por diante. E o que eu tenho visto é que, enquanto alguns poucos ou talvez até algumas dezenas vêm me ouvir dar uma preleção num campus, centenas e até milhares vêm a um debate em que podem ouvir ambos os lados. Por exemplo, 2.200 estudantes da Universidade da Califórnia – Riverside ouviram o meu debate com Greg Cavin sobre a ressurreição de Jesus. Na Universidade de Wisconsin em Madison 4.000 estudantes viram – na noite de um jogo de basquete! – meu debate com Antony Flew sobre a existência de Deus. Agora há pouco em Fevereiro [2004], 3.000 estudantes da Universidade de Iowa enfrentaram uma nevasca de quase 20 centímetros de neve para ouvir o meu debate com um professor local de ciências da religião conhecido pela sua aversão ao Cristianismo. Mais tarde, na primavera deste ano, 3.000 estudantes na Universidade Purdue ouviram meu debate com o jovem filósofo humanista Austin Dacey sobre a questão “Deus existe?”. A abordagem em todos esses debates é a abordagem da argumentação racional e das evidências. Há um tremendo interesse entre estudantes em ouvir uma discussão equilibrada das razões a favor e contra a crença cristã.

Então, não se engane pensando que as pessoas na nossa cultura não estão mais interessadas nas evidências a favor do Cristianismo. O oposto é o verdadeiro. É de uma importância vital preservarmos uma cultura na qual o Evangelho é ouvido como uma opção viva para pessoas pensantes, e a apologética será a dianteira e o centro ajudando a trazer esse resultado.

2. Fortalecimento dos crentes.

Não só a apologética é vital para a transformação da cultura, mas também exerce um papel vital na vida individual das pessoas. Um desses papéis é fortalecer os crentes.

Jan e eu passamos o verão de 1982 vivendo num apartamento em Berlin, enquanto eu me preparava para o meu exame oral em teologia na Universidade de Munique. Eu vinha me preparando por mais de um ano para esses exames críticos, e eu tinha uma pilha de notas de quase trinta centímetros de altura que eu tinha memorizado praticamente toda e revisado diariamente antes do exame. Durante nosso tempo lá, tivemos o prazer de receber Ann Kiemel e seu marido Will enquanto eles passaram por Berlin. Ann era a preletora cristã mais popular da América. Ela era única, ela falava para pessoas totalmente desconhecias a ela e as encorajava cantando algumas canções improvisadas e compartilhando sua fé. Ela era extremamente sentimental e emocional. Ela contava histórias – algumas fictícias, algumas verdadeiras – que faziam toda a plateia feminina derramar lágrimas em minutos.
Bem, enquanto estávamos conversando um dia, pensei que poderia aprender algumas lições a partir da experiência dela. “Ann”, eu perguntei, “como você se prepara para suas mensagens?”
“Ah, eu não me preparo”, ela disse.
Eu fiquei totalmente chocado. “Você não se prepara?”, eu disse.
“Não”, ela respondeu.
Eu fiquei totalmente desconcertado. “Bem, então, o que você faz?”, perguntei.
“Ah, eu só compartilho minhas lutas.”

Eu não podia acreditar. Eu estava me matando em anos de preparação para o ministério – e ela não se preparava! E não havia a menor dúvida quanto à sua eficácia. Ela alcançada milhares de pessoas com o Evangelho. Ela contava histórias de como acadêmicos cabeça-dura se desmanchavam pelas suas canções e histórias e vinham a Cristo. Eu pensei: “Por que estou fazendo tudo isso enquanto tudo que você precisa fazer é compartilhar suas lutas?”

Nós retornamos para os Estados Unidos naquele outono para passar período sabático na Universidade de Arizona em Tucson, onde um ex-colega de classe vivia. Eu compartilhei com ele a minha conversa com Ann e disse como isso havia me transtornado. Ele disse algo para mim que foi bastante confirmador. Ele me disse: “Bill, um dia essas pessoas que a Ann Kiemel trouxe ao Senhor vão precisar do que você tem para oferecer”.

Ele estava certo. Emoções o levam apenas a um certo ponto, e aí você precisará de algo mais substancial. A apologética provê essa sustância. Ao falar em igrejas ao redor do país, eu frequentemente encontro pais que se aproximam de mim após o culto e dizem algo como: “Se você estivesse aqui há dois ou três anos! Nosso filho (ou filha) tinha perguntas sobre a fé que ninguém conseguia responder, e agora ele perdeu a fé e se afastou do Senhor”.

Parte meu coração encontrar pais assim. Ao viajar, também tenho encontrado outras pessoas que me disseram como elas deixaram de apostatar por ter lido um livro apologético ou visto o vídeo de um debate. No caso delas, a apologética foi um meio pelo qual Deus as fez perseverar na fé. Ora, é claro que a apologética não pode garantir a perseverança, mas pode ajudar e, em alguns casos, pela providência de Deus, ser até necessária. Recentemente eu tive o privilégio de falar na Universidade de Princeton sobre argumentos para a existência de Deus, e após minha preleção eu fui abordado por um jovem que queria falar comigo. Claramente segurando as lágrimas, ele me disse que poucos anos atrás ele vinha lutando com dúvidas e estava prestes a abandonar sua fé. Alguém lhe deu um vídeo de um dos meus debates. Ele disse “Isso me salvou de perder a fé. Não há como te agradecer o suficiente.”

Eu disse, “Foi o Senhor quem o salvou de cair.”

‘Sim”, ele respondeu, “mas Ele o usou. Não há como agradecer-lhe o suficiente”. Eu lhe disse o quão emocionado eu estava por ele e lhe perguntei sobre seus planos futuros. “Eu estou me formando este ano”, ele me disse, “e eu planejo ir para o seminário. Eu vou ser pastor”. Glória a Deus pela vitória na vida desse rapaz!

Outros estudantes que eu encontrei em Princeton estavam matriculados num curso dado pela crítica de Novo Testamento Elaine Pagels. Eles apelidaram as aulas de “curso caçador de fé”, devido ao efeito destrutivo à fé de muitos estudantes cristãos. Eles não tinham noção de como a visão da Prof. Pagels sobre os evangelhos gnósticos estava fora da corrente principal de estudos acadêmicos. Foi um privilégio compartilhar com eles as bases para a credibilidade do testemunho neotestamentário sobre Jesus.

A experiência deles não é incomum. No colégio e na faculdade, os jovens cristãos são intelectualmente agredidos com todo tipo de cosmovisão não-cristã aliada a um relativismo esmagador. Se os pais não estão intelectualmente engajados com sua fé e não têm bons argumentos a favor do teísmo cristão e boas respostas para as perguntas de seus filhos, então estamos num verdadeiro perigo de perder nossa juventude. Não basta ensinar nossas crianças histórias simples da bíblia; eles precisam de doutrina e apologética. É difícil entender como as pessoas hoje podem arriscar ser pais sem ter estudado apologética.

Infelizmente, nossas igrejas jogaram a toalha nessa área. Não é suficiente focar em entretenimento e pensamentos devocionais bobos nos grupos de jovens e escolas bíblicas. Temos que treinar nossos filhos para a guerra. Não podemos enviá-los para o ensino médio e para a universidade armados de espadas de borracha e armaduras de plástico. O tempo de brincar já passou.

Mas a apologética cristã faz muito mais do que salvaguardar de lapsos. Os efeitos positivos e edificantes do treinamento apologético são ainda mais evidentes. Eu vejo isso toda hora nos campi de universidades onde eu debato. John Stackhouse uma vez comentou para mim que esses debates são uma versão ocidentalizada do que os missionários chamam de “encontro de poderes” . Eu acredito que isso seja uma análise perspicaz. Os estudantes cristãos saem desses encontros com uma confiança renovada em sua fé, de cabeça erguida, orgulhosos de serem cristãos, e confiantes ao falar de Cristo no campus. Algumas vezes após um debate os estudantes dizem: “Eu não posso esperar para compartilhar minha fé em Cristo!”

Muitos cristãos não compartilham sua fé com os descrentes simplesmente por causa do medo. Eles têm medo de que os não-cristãos lhe façam uma pergunta ou levantem uma objeção que não saibam responder. E então eles escolhem ficar em silêncio e, assim, escondem sua luz sob o alqueire, desobedecendo ao mandamento de Cristo. O treinamento apologético é um grande impulso ao evangelismo, pois nada inspira mais confiança e coragem do que saber que se têm boas razões para acreditar no que se acredita e boas respostas para as perguntas e objeções comuns que podem ser levantadas. Bom treinamento em apologética é uma das chaves para um evangelismo destemido.

Dessa e de muitas outras maneiras a apologética ajuda a edificar o corpo de Cristo fortalecendo individualmente os crentes.

3. Evangelizar os descrentes.

Poucas pessoas discordariam de mim quando digo que a apologética fortalece a fé dos cristãos. Mas muitos diriam que a apologética não é muito útil na evangelização. “Ninguém vem a Cristo através de argumentos”, lhe dirão. (Eu não sei quantas vezes já ouvi isso.)

Essa atitude negativa em relação ao papel da apologética na evangelização certamente não é a visão bíblica. Ao lermos os Atos dos Apóstolos, é evidente que era a atitude padrão dos apóstolos argumentar a favor da veracidade da visão cristã, tanto com judeus quanto com pagãos. (ex., At 17:2 3, 17; 19:8; 28:23 24). Ao lidar com a audiência judaica, os apóstolos recorriam ao cumprimento de profecias, os milagres de Jesus, e especialmente a ressurreição, como evidência de que ele era o Messias (At 2:22 32). Quando eles confrontaram as audiências gentias que não aceitavam o Antigo Testamento, os apóstolos apelavam para a obra de Deus na natureza como evidência da existência do Criador (At 14.17). Depois apelavam para as testemunhas oculares da ressurreição de Jesus para mostrar especificamente que Deus se revelou em Jesus Cristo (At 17.30,31; 1 Cor. 15.3 8).

Francamente, eu acredito que aqueles que veem a apologética como fútil na evangelização simplesmente não evangelizam muito. Eu suspeito que eles tenham tentado usar argumentos apologéticos em alguma ocasião e o descrente continuou incrédulo. E, por isso, tiraram a conclusão de que a apologética não é eficaz na evangelização.

Por um lado, essas pessoas são vítimas de uma falsa expectativa. Quando você observa que somente uma minoria das pessoas que ouvem o Evangelho o aceita e que só uma minoria desses que aceitam o faz por razões intelectuais, não deveríamos nos surpreender que o número de pessoas com as quais a apologética é eficaz é relativamente baixo. Mas, pela própria natureza da questão, devemos esperar que a maioria dos descrentes permaneça não convencida por nossos argumentos apologéticos, assim como a maioria permanece imóvel à pregação da cruz.

Bem, então, por que se preocupar com a minoria da minoria com a qual a apologética é eficaz? Primeiro, por que toda pessoa é preciosa para Deus, uma pessoa pela qual Cristo morreu. Como missionário chamado para alcançar um grupo obscuro, o apologista cristão é chamado para alcançar a minoria das pessoas que responderão à argumentação e evidência racional.

Mas, segundo – e aqui o caso difere significantemente do caso do grupo de pessoas obscuras -, esse grupo de pessoas, apesar de relativamente pequeno em números, é grande em influência. Uma dessas pessoas, por exemplo, foi C. S. Lewis. Pense no impacto que a conversão de um homem continua a ter! Eu acho que as pessoas que mais se entusiasmam com meu trabalho apologético tendem a ser engenheiros, pessoas da área de medicina, e advogados. Tais pessoas estão entre os mais influentes formadores de opinião hoje. Então, alcançar essa minoria de pessoas gerará uma grande colheita para o Reino de Deus.

De qualquer forma a conclusão geral de que a apologética é ineficaz na evangelização é precipitada. Lee Strobel recentemente me disse que perdeu a conta do número de pessoas que vieram a Cristo através de seus livros Em Defesa de Cristo e Em Defesa da Fé. Em minha experiência pessoal, tenho experimentado a eficácia da apologética na evangelização. Ficamos continuamente assombrados ao ver pessoas dedicando suas vidas a Cristo através de apresentações apologéticas do Evangelho. Após uma conversa sobre os argumentos a favor da existência de Deus ou sobre as evidências para a ressurreição de Jesus ou uma defesa do particularismo cristão, eu frequentemente concluo com uma oração de aceitação a Cristo, e os cartões de comentário indicam aqueles que registraram tal compromisso. Essa última primavera eu fiz uma turnê pelas universidades da região central de Illinois, e nós ficamos muito animados ao ver que após praticamente toda apresentação, os estudantes fizeram decisões por Cristo. Eu cheguei a ver estudantes virem a Cristo através de uma defesa do argumento cosmológico kalam!

Uma das histórias mais emocionantes foi o caso de Eva Dresher, uma física polonesa que eu encontrei na Alemanha logo após completar meu doutorado em filosofia. Enquanto eu e Jan conversávamos com Eva, ela mencionou que a física havia destruído sua crença em Deus e que a vida tinha se tornado sem sentido para ela. “Quanto eu olho para o universo, tudo que vejo é escuridão”, ela explicou, “e quando eu olho para mim mesmo tudo que eu vejo é sombrio”. (Que dolorosa declaração do dilema moderno!) Bem, nesse momento Jan se voluntariou, dizendo: “Ah, você deveria ler a dissertação do doutorado do Bill! Ele usa a física para provar que Deus existe.” Então, emprestamos para ela ler minha dissertação sobre o argumento cosmológico. Ao longo dos dias, ela ficava mais e mais animada. Quando ela chegou na seção sobre astronomia e astrofísica, ela estava jubilosa. “Eu conheço esses cientistas que você está citando!”, ela exclamou maravilhada. Quando ela chegou ao final, sua fé havia sido restaurada. “Obrigado por me ajudar a crer que Deus existe”, ela disse.

Nós respondemos: “Você gostaria de conhecê-lO de uma maneira pessoal?”. Então marcamos um horário para encontrá-la naquela noite num restaurante. Enquanto isso preparamos de memória as Quatro Leis Espirituais. Depois do jantar nós abrimos o livreto e começamos: “Assim como existem leis físicas que governam o universo físico, assim também existem leis espirituais que governam nosso relacionamento com Deus…”

“Ah, leis físicas! leis espirituais!”, ela exclamou. “Isso é exatamente para mim!”. Quando chegamos aos círculos no final que representam duas vidas e lhe perguntamos qual círculo representava sua vida, ela colocou sua mão sobre os círculos e disse: “Ah, isso é tão pessoal! Eu não posso responder agora”. Então, nós lhe encorajamos a levar o livreto para casa e entregar sua vida a Cristo.

Quando nós a vimos no dia seguinte, seu rosto estava radiante de alegria. Ela nos disse que havia ido para casa e na privacidade do seu quarto orou para receber a Cristo. Então, ela jogou no vaso todo o vinho e os tranquilizantes que vinha usando. Ela era uma pessoa verdadeiramente transformada. Nós lhe demos uma Bíblia Good News [Boas Novas] e lhe explicamos a importância de manter uma vida devocional com Deus. Nossos caminhos se distanciaram por muitos meses. Mas quando nós a vimos novamente ela ainda estava entusiasmada com sua fé, e nos disse que suas posses mais preciosas eram a Bíblia Good News e seu livreto das Quatro Leis Espirituais. Isso foi uma das mais vívidas ilustrações que eu vi de como o Espírito Santo pode usar argumentos e evidências para levar as pessoas a um conhecimento salvífico de Deus.

Tem sido emocionante, também, ouvir histórias de como as pessoas têm vindo a Cristo através da leitura de algo que eu escrevi. Por exemplo, quando eu estava falando em Moscou, alguns anos atrás, encontrei um homem de Minsk, Bielorrússia. Ele me disse que logo após a queda do comunismo ele havia ouvido alguém lendo em russo meu livro The Existence of God and the Beginning of the Universe [A Existência de Deus e o Ínicio do Universo] pelo rádio em Minsk. No final da transmissão, ele havia sido convencido de que Deus existia e entregou sua vida a Cristo. Ele me disse que hoje ele serve ao Senhor numa Igreja Batista em Minsk. Glória a Deus! Mais cedo nesse ano na Universidade do Texas, encontrei uma mulher que estava participando de minhas preleções. Ela me disse chorando que, por 27 anos, havia estado longe de Deus e se sentido desesperançada e sem sentido. Pesquisando numa livraria ela achou meu livro Will the Real Jesus Please Stand Up? [O verdadeiro Jesus, por favor, levante-se], que contém meu debate com John Dominic Crossan, copresidente do radical Seminário Jesus [Jesus Seminar], e comprou uma cópia. Ela disse que, enquanto lia, ia se abrindo a Cristo, até que finalmente entregou sua vida a Ele. Quando eu perguntei o que ela fazia, ela disse que era psicóloga e trabalhava numa prisão feminina do Texas. Pense na influência cristã que ela pode ter num ambiente tão desvairado!

Se me permitirem, gostaria de contar uma última história. Nos últimos anos eu tive o privilégio de me envolver em debates com apologistas muçulmanos em vários campi no Canadá e Estados Unidos. Este verão, numa manhã de sábado, eu recebi uma ligação. A voz do outro lado da linha anunciou: “Olá! Aqui é Sayd al-Islam ligando de Omã!”. Eu pensei: “Ah, não! Eles me encontraram!”. Ele continuou e explicou que ele havia perdido sua fé muçulmana secretamente e havia se tornado ateu. Mas agora lendo vários livros apologéticos cristãos, que ele havia comprado na Amazon.com, passou a crer em Deus e estava prestes a se comprometer com Cristo. Ele estava impressionado com as evidências para a ressurreição de Jesus e havia me ligado porque ainda tinha muitas perguntas que precisavam ser respondidas. Nós conversamos por uma hora, e eu senti que no seu coração ele já cria em Cristo; mas ele queria ser cauteloso e ter certeza que tinha as evidências certas antes de dar o passo conscientemente. Ele me explicou: “Você entende que eu não posso lhe dizer meu verdadeiro nome. No meu país eu tenho que levar um tipo de vida dupla por que senão eu sou morto”. Eu orei com ele para que Deus continuasse a guiá-lo em direção à verdade, e então nos despedimos. Você pode imaginar quão grato a Deus meu coração ficou por Ele ter usado esses livros – e a internet! – na vida desse homem! Histórias como essa são inúmeras e, é claro, nunca ouvimos todas elas.

Então aqueles que dizem que a apologética não é eficaz com os descrentes falam a partir de sua experiência limitada. Quando a apologética é persuasivamente apresentada e combinada sensivelmente com uma apresentação do Evangelho e um testemunho pessoal, o Espírito de Deus usa isso para trazer certas pessoas para Si. A apologética é necessária nesses casos? Essas pessoas teriam vindo a Cristo de qualquer forma, mesmo se não tivessem ouvido os argumentos? Acredito que temos que dizer: “Só Deus sabe!”. No mínimo, Ele sabe se Ele tem conhecimento-médio, certo? Podemos não saber o valor de verdade de tais contrafatuais da liberdade; mas nós podemos saber e sabemos por experiência que Deus usa a apologética na evangelização para trazer os perdidos a Ele.

Concluindo, a apologética cristã é uma parte vital do currículo teológico. Apesar de não ser necessária para garantir a crença cristã, ela é, acredito, suficiente para garantir e justificar a crença cristã e, portanto, de grande benefício. A apologética executa um papel vital, e talvez crucial, na transformação da cultura, no fortalecimento dos crentes, e na evangelização dos descrentes. Por todas essas razões, fico não-apologeticamente entusiasmado com a apologética cristã.

Notas

1 Eu acho que epistemólogos reformados como Alvin Plantinga conseguiram oferecer um modelo epistemológico que mostra, se o teísmo cristão for verdadeiro, que a crença cristã pode ser garantida e justificada na ausência de argumentos apologéticos. Eu devo apenas ajustar esse modelo para os propósitos da teologia cristã eliminando o chamado sensus divinitatis, que não encontra nenhuma base nas Escrituras, em favor do testimonium Spiritu Sancti internum, ou o testemunho interno do Espírito Santo, que é atestado nas Escrituras. Além do mais, ao invés de tomar o testemunho do Espírito como um processo formador de crença análogo a uma faculdade cognitiva (um constructo que torna difícil assegurar que é literalmente verdade que “eu creio em Deus”, visto que a faculdade ou processo não é meu), eu devo entender o testemunho do Espírito como um forma de testemunho produzido pelo Espírito de Deus em mim ou como parte das circunstâncias que fundamentam a crença que eu formo acerca de Deus e das grandes verdades do Evangelho.

2 Alguns epistemólogos reformados, apesar de endossarem os argumentos da teologia natural, expressam ceticismo em relação às perspectivas da apologética histórica porque, quando é adicionada mais especificidade a uma hipótese, a probabilidade dessa hipótese diminui rapidamente. Tal objeção é, entretanto, duplamente equivocada. Primeiro, as probabilidades não precisam diminuir e podem, na verdade, aumentar ao se acrescentarem progressivamente evidências especificas para a informação prévia de alguém pelo refinamento das hipóteses. O erro da objeção é que esta afirma que a base evidencialista é constante enquanto adiciona hipóteses adicionais, ao invés de aumentar as evidências ao falarmos de crenças cristãs especifícas. Segundo, de qualquer forma os historiadores não avaliam hipóteses históricas através de cálculos probabilísticos. Antes, eles usam como critério de avaliação a extensão explanatória, o poder explanatório, o grau de ad hoc, e assim por diante. Esse é o meio pelo qual eu argumento a favor da hipótese da Ressurreição.

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